quarta-feira, dezembro 24, 2008

Mais

Há uns quinze minutos pensei em lhe enviar uma mensagem. Uma frase curta, aparentemente desinteressada, um “feliz natal”, “saúde”, “paz na Terra”.
A verdade é que gostaria que as minhas palavras te encontrassem.
O telefone desligou sozinho, enquanto ainda pensava que mensagem estúpida natalina poderia ser tão despretensiosa, a ponto de que você não percebesse assim, o meu interesse súbito.
Nem eu mesma sei de onde ele surgiu. É como se, por alguma razão, eu desejasse te conhecer mais, saber qualquer outra coisa da sua vida, além do seu sexo, do seu corpo, da conversa superficial de bar.
Quero mais. E nem ao menos me pergunto por que quero mais!
Do que emerge esse desejo de ir me apropriando dos seus pensamentos, vontades, criações? Por que, sendo tão deliciosamente tranqüilos e inusitados os nossos encontros nessa vida, tão despreocupados, ansiosamente esperados e desejados, eu tento alcançá-los, me adiantar, prever, controlá-los?
Por que me corrói uma ansiedade de te encontrar de maneira mais fácil? De que esteja ao alcance das mãos? De que venha quando eu chamo?
Por que desejo tanto essa segurança, quando a beleza própria do nosso contorno reside também na incerteza, principalmente na incerteza, da possibilidade de mais um momento juntos?
E, buscando essa segurança, correndo o risco de suprir este desejo que faz parte, para mim, da sua figura que agora também desejo, não destruo desta forma, um pedaço deste querer?
Não, não. Deixemos a ansiedade tomar conta, a vontade enlouquecer, o acaso intervir. E desta forma, a possibilidade de não nos encontrarmos tornará os raros encontros mais e mais deliciosos. E a impossibilidade de nos acorrentarmos, tornará nossos desejos cada vez maiores. E a cada valor descoberto um no outro, uma supresa a ser digerida até a próxima vez.
Se os amores continuassem assim, eternizados pela falta de contato, enriquecidos de imaginação, o amor pelo outro seria o amor pelo si, inventado, e tenderia ao infinito semi-morto de insatisfação, mas nunca morto, pois sempre alimentado por ela...
A verdade é que gostaria que as minhas palavras te encontrassem. Mas trata-se de um dolorido egoísmo de adiantar o que o tempo já definiu lento.
E dizem por aí, que este amor não é o real...

3

Faz três dias. Três dias e algumas horas. Três dias e alguns sussurros. Três dias e mais uma foda. Três dias e muita comida. E muita cerveja, e muito trabalho, e muita TV. Faz três dias e ainda não sei se concordo. Faz três dias e muita tosse, e uma gripe que não extravasa. Faz três dias e, ainda, varro os cabelos do quarto. E não me conformo. E ainda estou brigando. E ainda não sei bem com o quê. Faz três dias e dezoito escovadas de dentes. Três dias e só penso em tequila. Três dias que só penso, como, fumo, desfio, desvio, sonho, cheiro... você. Três dias inteiros.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Mulheres que correm


Será essa a sina? Das mulheres que correm com os lobos?
Esta sensação de não pertencer?
De não caber em lugar algum?
Deixar a chaleira no fogo queimando?
Esquecer de esquecer?
Sentar-se, parar...

O problema é que ficam paradas,
Quando deveriam é correr sem parar.
A gente se encosta na vida, sonhando com o dia depois de amanhã,
quando vai ser finalmente livre...
(mas o dia depois de amanhã sempre é o dia depois de amanhã e não hoje. E a gente vai ficando amarga de dar dó...)

Livre do quê?
Será que a gente quer se libertar da gente?
Livre para correr sem parar, sem destino,
que destino de cu é rola...
e a gente quer é não ter ponto de chegada.

E se eu estivesse fazendo análise,
sentada na porra do divã,
tentando explicar porque quem tem tudo reclama de tudo...
Tentando explicar pro cara que queria mesmo era estar correndo,
e não ali sentada.

O fato é que pra gente não há satisfação,
a não ser continuar procurando.
Inventando satisfação nova para correr atrás...

Ando incomodada, sabe?
Deveria estar trepando ao menos...
Mas claro! Tá parada!

Pra maioria das pessoas, atingimos tudo o que se pode chamar de satisfação na vida.
E ninguém entende porque não estamos felizes...
O problema é que a cada parada que chegamos,
vemos um trem a partir...
queremos chutar, entrar porta adentro,

nem que seja só pra ouvir o barulhinho...

mentira: queremos é ver o mundo correndo,

o perfeito, ficando para trás...

Medusa e Pandora (duas doidas de dar dó)