sábado, setembro 30, 2006

Tempo é dinheiro

Estava conversando com uma amiga aqui de Sampa. Numa sexta à noite, via msn. (não sei se vocês percebem o absurdo da situação. Sexta à noite – em casa. Em Sampa. Quando eu digo que o mundo está acabando, ninguém acredita...)

Essa minha amiga estava me explicando como tudo na vida dela estava programado para, daqui a dez anos, numa sexta à noite, ela ter bastante dinheiro, uma casa legal, um carro legal e a possibilidade de escolher – numa sexta à noite – o lugar aonde ela gostaria de estar. Tipo, qualquer bar, qualquer restaurante, qualquer danceteria, whatever.

E ela estava me contando os detalhes da sua programação, o quanto ela teria que guardar de dinheiro por mês, quantas horas-extras teria que fazer... enfim, me explicando porque ela não podia sair comigo naquela sexta – tinha que trabalhar no sábado de manhã (hora-extra n° 429).

Eu não conseguia entender a lógica da cabeça da minha amiga. Por isso tentei me imaginar na situação dela, programando minha vida pra daqui a dez anos.

Fiquei pensando que, daqui a dez anos, talvez eu nem queira sair pra qualquer lugar numa sexta à noite. Talvez eu queira ficar em casa lendo um livro, ou vendo um filme. Talvez eu esteja casada com dois filhos e simplesmente não possa fazer isso. Talvez o Alckimin ganhe a eleição pra presidente e confisque a minha poupança, daqui a dez anos, me deixando sem escolhas pra uma sexta à noite, como o Collor fez.

Talvez... talvez eu nem esteja viva...

Sei que Sampa tem outro ritmo e eu estava desacostumada. Provavelmente o contato com o mar e com o mato tenha me feito ver outras coisas boas para passar o tempo além de programar o meu futuro – como, por exemplo, viver o presente.

Mas preciso protestar o fato de eu ter que marcar hora pra fofocar com as minhas amigas que moram do lado da minha casa! Isso pra mim é absurdo! Pra quem não almoçava sozinha há uns dois anos (sempre tinha algum amigo por perto), isso é no mínimo esquisito. No máximo, uma falta de vergonha ou de percepção e mau-uso do tempo...

Pois é. Na maior metrópole da Brasil, eu nunca me senti tão sozinha.

Tem todo tipo de coisas pra se fazer nessa cidade numa sexta à noite – desde suruba até baile sertanejo. Mas ninguém sai!

Lembro de uma galera reunida lá em Floripa, caçando um lugarzinho massa pra sair à noite e terminando a noite no primeiro boteco que aparecia, porque lá, às vezes, não tinha opção... mas, mesmo assim, ninguém ficava em casa!

Aqui as pessoas não se encontram mais. Quando se encontram, falam com a gente ao mesmo tempo em que atendem telefone e vêem televisão. Porque não há tempo. Se se desperdiça o pouco que há... como será o futuro?

Mas que porra de futuro é esse?

O fato é que a minha amiga (e vários outros paulistanos) não conseguem ver que podem escolher, nesta sexta, aonde querem estar. E, ao invés de irem pra esse lugar, ficam sonhando em ir daqui a dez anos, quando, talvez, haja condições normais de temperatura e pressão (CNTP) pra realizar esse grande sonho.

O grande problema é que as pessoas estão neuróticas demais, cansadas demais, ocupadas demais, assustadas demais, casadas demais, analisadas demais, engarrafadas demais, televisonadas demais pra perceber essas coisinhas bobas...

Bom, fazer o que? Vou pra balada sozinha.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Crônicas da dor e da caça - 03

O caminho, a carona, a conversa. O que eu quero provar?

- Hoje eu vou pegar!

- De novo mulher? Você não cansa?

- Nunca! Só canso dois dias depois, trancados num quarto. E, ultimamente, ninguém me cansou assim.

Risadas estrondosas. Eu me sinto a femme fatalle. Mas não sou, nada disso. É um teatro, pra disfarçar que o mundo inteiro dói dentro de mim. Não posso demonstrar medo diante do inimigo – que eu não sei quem é, ou que é, ainda.

Penso num amor. E tento afastar essa imagem de mim. Ela me entristece, como se eu já não tivesse me desmanchado em lágrimas por momentos suficientes pra qualquer novela, pra todas as novelas juntas.

Outros pensamentos, pra substituir:

- Peguei três caras no fim de semana.

- Mas você não tá namorando?

- Ah, mas não é bem assim. Na verdade, ele está me namorando, mas eu não estou namorando com ele.

- Você não presta nem um pouco (risada).

- Eu já falei que esse namoro foi um mal-entendido e que, assim que puder, eu vou terminar com ele.

- Ah meu, não vai magoar o cara, hein?

E eu? Não estou magoada, demolida, reduzida à pó, agora? Por que eu tenho que me importar tanto com os outros? A minha dor parece bobagem pra todo mundo... “ih, ela ainda não saiu dessa”. “pára de pensar nesse cara”. “você ainda não superou? Começa um capítulo novo”. É o que estou fazendo. Mas ele continua aparecendo, capítulo sim, capítulo não.

Chegamos. A fila na porta do bar está enorme. A noite promete.

Por que eu caço?

domingo, setembro 24, 2006

INTUIÇÃO

Que maravilhoso mistério reside nesse sentimento ou percepção subjetiva, que é a intuição!
Quero falar um pouco sobre isso hoje, porque acho que as mulheres tem um diferencial sobre os demais seres humanos.
Pena que não saibamos que a temos, ou mesmo, como nos aprofundar e nos aproveitar mais dela.
Acredito que a fala sobre a existência da intuição nos tem sido negada há séculos, por essa sociedade machista, inclusive pelas próprias mulheres que estão também imersas nesse tipo de pensamento patriarcal.
O resultado é um enfraquecimento do ser e decisões ingênuas tomadas por outros e não por nós mesmas, que de alguma forma já sabemos a resposta. A partir dessa ingenuidade, tudo se desmonta. Perdemos a identidade, a força, a sabedoria e até a vontade de viver, pois nos falta algo.
Isso pode continuar ocorrendo a vida toda, mas esse ciclo pode se romper. É o momento em que percebemos a força que temos e que sempre nos negaram.
Passamos a saber todas as respostas?
Não, mas podemos acertar mais, nos conhecendo melhor e aos outros.
E podemos considerar que quando percebemos a intuição e passamos a usá-la, algo se modifica em nós. Algo é resgatado.
E isso passa a ser incorporado nas mais diversas atividades do nosso cotidiano: trabalho, amor, amigos, finanças, sexo.

Devo investir nesse relacionamento?
Por onde devo caminhar?
É uma pessoa em quem posso confiar?
Espero ou ando?

Respire e pense, resgate sua intuição e mesmo que você tome a decisão errada, você saberá!

domingo, setembro 17, 2006

Emprego II


Fiz alguns concursos. Passei em dois. Não quero nenhum deles. Fiz uma prova e fui chamada para uma dinâmica de grupos pra selecionar trainees para uma empresa. Ok. Eu vou. Amanhã? Em São Paulo? Está bem.

Corri para a rodoviária, comprei passagem e embarquei pra Sampa. Cheguei lá no dia seguinte, morrendo de sono, com a cara amassada de quem dormiu muito mal no ônibus. Fui para a casa da mamãe...

A mamãe achou que eu não tinha nem roupa nem unha nem cabelos decentes o suficiente para participar daquele negócio. Corremos então pro shopping pra comprar uma roupa decente. Compramos. Corremos então pro salão de beleza pra comprarmos unhas e cabelos decentes. Compramos. Corremos então para a dinâmica, para ver se eu ganhava um emprego decente...

Coisas que as pessoas deveriam saber antes de ir a uma dinâmica de grupos: em primeiro lugar, o que é uma dinâmica de grupos.

É uma reuniãozinha de cinco horas, com pessoas que nunca se viram (mas já se odeiam a princípio, pois estão disputando a mesma vaga), onde uma psicóloga manda você fazer apresentações sobre si mesmo e sobre assuntos sobre os quais você não entende (como, por exemplo, pedir que você monte uma empresa em meia hora, definindo desde o quadro de funcionários até o retorno de lucros para os próximos três anos. Eu sou uma bióloga! Só sei montar empresas de consultoria ambiental! E não sei se elas vão dar certo!) junto com as pessoas que você não conhece e que só querem ver a sua morte. Além de tudo, a maldita psicóloga fica anotando coisas sobre você e seus colegas de grupo. E você nunca vai saber que coisas são essas... ela pode estar escrevendo o cardápio da janta, fazendo comentários sobre o seu cabelo (já que a cabeleireira da mamãe arrumou-os como se você fosse a um casamento ou a um concurso de “cabelo mais exótico”), ou um recado para o amante encontra-la no motel às 21:40.

Outra coisa para saber: existe um “uniforme” para entrevistas de emprego. Calça preta reta, camisa branca e sapato fechado não muito alto. Diferente de saia branca esvoaçante, blusa preta bonita e sandália preta de salto plataforma, que é como eu fui vestida. Além disso, batom discreto e cabelo normal. Diferentemente de maquiagem e cabelo de festa. Eu nunca vou conseguir aquele emprego...

Importante: as pessoas que estarão lá são loucas. Elas já passaram por 2000 dinâmicas como aquela o que deve deixar qualquer um fora de seu estado normal (acho que a minha tese de mestrado vai ser em psicologia: “como criar sociopatas em 22 dinâmicas de grupo para empregos”). E odeiam seus concorrentes. E farão de tudo para aparecer. Nada do que eles fizerem vai ser para o seu bem. Eles não vão te deixar falar. Se eles deixarem, isso só vai demonstrar que eles mandam, você obedece. Eles vão falar muito e alto, para tentar levar a conversa e parecer, ao máximo, líderes, confiantes e criativos. Isso porque, na verdade, eles são bobos, inseguros e travados. Tudo isso faz parte do teatro. E eu digo isso pra que vocês não se sintam uns merdas, como eu cheguei a me sentir na hora, pois só consegui sacar tudo isso depois de todo esse estresse. Na verdade, todos que estão lá são uns merdas, tão inseguros e ansiosos quanto você. O bom é que você saiba disso antes de ir pra lá.

No fim de tudo, a psicóloga ainda teve a coragem de aplicar uma prova de lógica e inglês, como se, depois de toda essa pressão, você ainda se lembrasse do significado de “the book is on the table” ou como se calcula juros... acho que seria melhor se eles substituíssem os próximos trainees por programas de computador que calculassem juros, em inglês e soubessem como gerir uma empresa... quero ver se daria certo.

sábado, setembro 16, 2006

Eu te amo

Você me pede pra deixar minha paixão ir embora. Mas como posso deixá-la, se eu sou a minha paixão? Se tudo que eu respiro é essa paixão? Se ela traz conforto, carinho e amor por mim mesma? Se está por todo meu corpo e fora dele, em você?

Como as pessoas choram suas dores, eu vou chorar as minhas. Vou chorar no que eu escrevo, no que como, no que leio. Vou chorar ouvindo todas as músicas que me acenderem a paixão, que façam parte dela. Vou chorar por mim e por você.

É dessa ponte entre nós que eu sinto mais a falta. É da hora em que as nossas paixões se misturavam numa só, tão infinita que caberia apenas numa gota de chuva.

Você quer ficar livre. Mas não sabe que já está. Eu nunca te prendi.

Meu amor está aqui, comigo, me lembrando de você enquanto eu escrevo. E eu também queria estar livre dele agora. Mas eu não posso. Porque ele é o que me motiva. É por ele que estou viva. Não por você.

Você é apenas o meu objeto de amor. Porque vejo meu amor refletido no seu rosto. Porque no seu rosto ele se torna mais belo ainda. E eu não me canso de olhar...

Respondendo o texto e comentários do "Papo de Mulheres"

Bom, lendo o último texto da Leila Diniz e os comentários, me revoltei: eu tenho um protesto pra fazer! EU TAMBÉM FALO DE MULHER! E JÁ ESCREVI SOBRE MULHER NO BLOG VÁRIAS VEZES! Hahahah! Ok, meu protesto não é só esse...

Eu acho que o nosso problema maior não é só falar de homens... o que a gente nunca pára de falar é de amores, paixonites, sexo, relacionamentos, essas coisas bobinhas de novelas. Aliás, acho que o nosso problema é esse: cultura feminina novelística. Mesmo que a gente não assista, mulher adora falar do que falam as novelas: relacionamentos humanos. Por mais idiotas, babacas e chatos que sejam.

E muita gente está reclamando ultimamente porque, no nosso blog, homens têm sido o tema central. Mas também... bom, eu não sei se vocês perceberam, mas o tema do blog é esse, porra! O título do blog é esse! Nós vamos falar do que aqui? Mercado financeiro? Que saco. É uma porra de um blog pra se discutir o universo feminino e suas diversas relações com a sociedade (principalmente com os bobos – que dão nome ao título). Não vejo porque reclamar tanto de se escrever e se falar sobre homens.

Aliás, ainda acho que estamos avaliando por poucas conversas e textos: eu já escrevi textos sobre menstruação, sobre maternidade, sobre bebedeiras, sobre mulheres, sobre amizade. Algumas colegas já escreveram vários textos sobre maturidade, sobre mudanças, sobre nossos desejos para com o mundo.

E, quando sento num boteco pra tomar uma e relaxar, eu falo de homens. Mas também de cinema, estudos (quem não lembra dos papos acirrados sobre epistemologia, educação e o futuro do mundo?), música, política, nossas angústias enquanto professoras, mães, pesquisadoras, seres humanos enfim.

Eu não acho que nossas vidas giram em torno dos machos. Mas acho que eles fazem parte delas. E, por isso, fazem parte, também, do universo feminino que todas vêm contribuindo pra retratar e discutir aqui.

Eu esperava mesmo que o blog fosse um espaço pra isso: colocar pra fora nossos medos, nossas vontades, nossas ansiedades e desejos. E, a melhor parte, é que, alguns desses inspiram textos e outros não. Assim, temos as diferentes épocas de cada autora registradas, como um diário – refletindo o que mais afetava e inspirava os pensamentos de cada uma em um determinado momento.

Às vezes, quando eu releio o blog todo – e eu releio mesmo – o que eu vejo lá não são reclamações sobre homens, ou, o nosso mundo girando ao redor deles... eu vejo um pouco da história de cada mulher, de cada amiga que faz parte da minha vida. E eu acho show de bola.Assim também acontece com os nossos papos de botecos. A diferença é que, desses, a gente lembra pouca coisa no dia seguinte... huahuahuahuhau

sexta-feira, setembro 15, 2006

Papo de mulheres!

Por mais que a gente tenha mil outras coisas pra ocupar nossas cabeças, sempre acabamos falando de homem. Falando mal ou falando bem não importa o que importa é que essa palavra, esses caras, sempre estão povoando nossos papos, nossas vidas. Estive pensando sobre isso e cheguei à conclusão de que isso é mesmo coisa de mulher. Não gosto dessas coisas de ficar rotulando o que é típico de mulheres ou de homens, mas todas as evidências que eu tenho me levam a acreditar nisso! Vocês já pararam pra pensar no que os homens falam em mesas de bar? Como assídua freqüentadora de bares já prestei atenção em alguns papos masculinos de mesas vizinhas e o que ouço freqüentemente são conversas sobre trabalho, futebol, política, filmes...Quando falam sobre mulheres é para dizer que a fulana (pode ser uma mulher que acaba de passar, uma colega de trabalho, aluna, filha de um amigo) é a maior gostosa ou então, no caso dos casados, fazer reclamações sobre a mulher (que depois de assinar papeizinhos e colocar aliança no dedo esquerdo virou uma mala sem alça, insuportável mesmo). Nesse último caso o assunto provoca a solidariedade dos companheiros de cerveja que ouvem atenciosamente todas as reclamações, mas obviamente não dão conselho nenhum porque ninguém deve se meter na vida do casal e pedem mais uma cerveja. Na verdade acho que é porque eles estão pouco se fodendo pra vida do otário que resolveu casar com uma mala e continuar nessa condição. Nós nos entregamos completamente, intensamente, loucamente e até estupidamente, por mais inteligentes e independentes que sejamos. Vamos para o bar com as amigas e falamos sobre homens (problemáticos ou só um pouco), pedimos mais uma, continuamos falando deles (todos interessantíssimos e inteligentes), pedimos outra e continuamos no mesmo papo (depois de algumas cervejas já estamos falando dos detalhes não publicáveis, nem sempre tão detalhes assim hehehe), pedimos a saideira , a conta e estamos todas dividindo angústias, conselhos, teorias sobre homens! Concordo com a Medusa quando diz que os homens são egoístas. Ao contrário do que acontece com as mulheres, por mais apaixonados que os caras estejam, o mundo deles não gira ao nosso redor! Perceber isso às vezes dói. Mas será que não são eles que estão certos?

sexta-feira, setembro 08, 2006

Mas que merda acontece com a gente

Quando nos interessamos por alguém? Que tipo de transformação insana ocorre nos nossos neurônios que nos faz agir feito malucas e se apresentar como um novo ser?
É sério! Essa dúvida está me afligindo ultimamente... fiquei me perguntando isso depois de conhecer um cara outra noite. Reparei que eu estava agindo de forma diferente. Que falava de um jeito diferente. Sobre coisas que não falo normalmente com meus amigos. Reparei que estava excessivamente preocupada com o meu cabelo. Com a minha roupa. Reparei que a minha profissão, de repente, ficou muito mais importante para o futuro do mundo do que eu realmente paro pra pensar...
Por que a gente faz isso?
Por que, quando estamos a fim de alguém, não nos apresentamos exatamente como quando estamos a fim de sermos amigos de alguém? Por que tanto cuidado?
Quando conhecemos alguém e queremos ser amigos desse alguém... é de um outro jeito. Queremos nos mostrar – como somos. Com defeitos, com problemas, com carências e todo tipo de imperfeição. Nossas imperfeições são importantes!
Não temos tanto medo de perder um amigo por dizer o que pensamos, o que sentimos. Não ligamos se nossos amigos nos vêem no nosso pior dia – de calça de moletom, cabelo esgruvinhado, mau-humor, com meia e chinelo havaiana.
Nós arrotamos na frente dos nossos amigos. Se estamos com dor de barriga, simplesmente levantamos e dizemos: “vou cagar”. E nossos amigos dizem “ok, tente não interditar o banheiro de novo”. Nós podemos e queremos ser a gente mesmo!
E, se nosso aspirante a amigo não gostar, a gente procura alguém que goste. Então temos vários amigos que curtem a gente assim mesmo: baladeiras, taradas, bêbadas, rockeiras, fumantes, sem noção, grossas, intensas, choronas, wathever!
A gente não liga de dizer pros nossos amigos que não está a fim de sair porque tem bilhões de coisas pra fazer, pra pensar, ou, porque simplesmente não está com saco, ou está cansada.
Já quando se trata de pessoas que a gente quer foder... bem, daí a coisa muda totalmente.
A gente está sempre disponível. Não interessa o quanto seja importante o relatório que você tem que entregar amanhã – a gente dá um jeito de ver o cara.
A gente não peida. Podemos nos contorcer de cólica, mas a gente não levanta e vai cagar!
A gente nunca vai aparecer toda feia. Mesmo doente, de ressaca, acabando de acordar, a gente corre pro banheiro e passa por mini-transformação: de monstro a princesa em 5 minutos.
A gente não fala tudo que quer. Muitas vezes, nem de coisas que o cara faz que nos magoam... às vezes, muito.
A gente ouve algumas coisas sobre o nosso jeito de ser, ou sobre o jeito de ser de outras pessoas, que o cara diz que não curte e corre pra tentar não fazer. Aí a gente pára de fumar, de beber, de sair, de estralar os dedos, de limpar a boca de um certo jeito... e, sabe o quê? Por mais que a gente tente não mudar, que a gente saiba que isso não é jeito de viver, a gente continua fazendo – e nem percebe.
Depois que o rolo termina... a gente percebe tudo o que fez pra preservar esse rolo e se amaldiçoa por “ter se empenhado tanto por aquele desgraçado que não me merecia!”.
Mas a pergunta fica: se o cara é só mais um amigo com o qual a gente transa... por quê tudo isso?
Na real... a gente acaba se mostrando como é. Mas demora muito mais tempo. Com amigos é pá-pum! Não gostou? Foda-se! Você é meu amigo, ou não? E me pergunto se não devíamos tomar muito mais cuidado com os nossos amigos, que nos agüentam de todas as formas, do que com um esquema, que, a qualquer sinal de perigo, arruma suas coisas e sai fora...

domingo, setembro 03, 2006

"Quando me amei de verdade"

'Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... auto-estima.Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.Hoje sei que isso é... autenticidade.Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.Hoje chamo isso de... amadurecimento.Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar algumasituação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.Hoje sei que o nome disso é... respeito.Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... pessoas, tarefas, crenças, tudo e qualquer coisa que me deixasse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.Hoje sei que se chama... amor-próprio.Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.Hoje sei que isso é... simplicidade.Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a... humildade.Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar muito com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... plenitude.Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.Tudo isso é.... saber viver!A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.'

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE