sexta-feira, dezembro 21, 2007

Cerejas de Quinta-Feira


Entre uma e outra abocanhada, elas se partem, esguichando um suquinho vermelho que escorre pela barra do vestido. Está manchado.
Escorre um fio no canto da boca, da mordida suculenta.
Lambo os dedos e penso em desprezar as outras, ali, na caixinha de plástico que agora, enfeita a mesa com sua cor... cereja? – brilhante e sensual.
O sexo, explícito num amontoado de frutinhas.

Basta um olhar para que ele feche sobre si mesmo e se volte para dentro: o lugar dos sonhos.
Nos sonhos, uma tina de cerejas, onde se deite.
[Deito]
E a pele se arrepie do contato com a casca, quase um bilhão de corpos (de cereja) acariciando esse corpo.

Um gesto para o lado e pequenas bolinhas macias pela nuca até os pés...
Cheiros, sucos e paixões.

Volta-se novamente o olhar para o fora: estão lá, no potinho.
Quem sabe só mais uma.
Inteira, estrala.

Mastiga uma e entende a minha saudade...
É d’um carinho do toque das cerejas explodindo no céu da boca.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Aquela outra mulher...


Mesmo sem esperar ela veio e estava acompanhada.
Na madrugada daquele dia tive certeza de que ela estava ali definitivamente, para ficar.
E agora? Será que vamos ficar lado a lado sempre? Às vezes acho que ela está sempre um passo à minha frente. Tenho que correr.
Naqueles olhos vi coisas repetidas e ouvi histórias que já nem sabia mais, cheias de cores, sabores, aromas. Não me perguntei se era real, não me perguntei por realidade. Apenas fiquei ali contemplando aqueles pedaços de histórias que apareciam, dançavam na minha frente e sumiam como fumaça diante dos meus olhos.
Um misto de medo, expectativas, desejos, vontades começou a tomar conta dos olhos. Agora ela me via. Tentei continuar contemplando os pequenos sonhos e lembranças que ainda estavam pelo ar, já era tarde. Era hora de voltar.
Conversamos sobre coisas guardadas, algumas para lembrar, outras para deixar bem no fundinho do armário, mas estavam todas lá. Marcas que ficam, profundas, rasas, felizes, doídas, cheias de esperança, em paz.
Engraçado achar que estamos meio perdidas, bagunçadas, arrumando as coisas pelo caminho. Engraçado é ver que ela tinha toda a razão quando dizia: “Deve ser assim mesmo”. Agora eu concordo. Será que estamos nos entendendo?
Ela sempre pareceu muito mais forte do que eu. Naquelas horas bem complicadas ela sempre aparece e é quem resolve tudo sozinha.
Entre tantas coisas contadas e revividas lá estava eu.
Agora parecia mais ela do que nunca.
E eu a recebo, aceito, acolho e carrego comigo pela vida.

domingo, dezembro 02, 2007

Aos Pedaços


Eu olhei ali, no fundinho dos seus olhos hoje. E talvez não haja nada mesmo por lá que me reflita, além da luz que impressionou tua retina.
Confesso que me senti um tanto triste, um tanto livre e um tanto... desprotegida? Não, não era essa a palavra...
É uma palavra que a gente usa quando está sem... casa?
(Sem... teto? Hahahahaha! Não, não era bem isso.)
Talvez mais tarde eu me lembre da palavra exata.
Senti também outra coisa...
Que conheço tão pouco de você...
Talvez eu conhecesse a parte que importa...
Mas, tantas outras coisas que eu não fazia idéia... e das quais eu poderia gostar bastante também. (Por que será que você não as mostrou para mim?)
Passei um tempo a me perguntar por que te gosto tanto, assim: um pedacinho.
Quem sabe tenha sido apenas uma daquelas ilusões que a gente inventa por pedacinhos lindos das pessoas.
Estava com saudades do seu sorriso... e você o economizou bastante desta vez...
Era muito bom ser motivo dele – vou sentir falta.
A palavra eu não lembro mesmo. Quem sabe uma outra hora.
Agora ela está sendo substituída por “vazia”.
Tem um vaziozinho estranho aqui comigo.
É diferente pensar que, apesar de tudo, nada vai mudar,
mas... tudo vai mudar...
Talvez tudo já tenha mudado...
Pela primeira vez senti que não tínhamos nada a nos dizer.
Não porque realmente não tivéssemos, mas porque... não quisemos - as frases andam curtas.
Tantas coisas para te perguntar ainda... e um medo de que você não queira responder mais nada.
Muitas coisas para te responder e... nenhuma pergunta.
Você é agora um outro inteiro. E eu tenho medo de não conseguir mais guardar aquele pedacinho...
Como mantê-lo intacto, se tudo ao redor muda?
A promessa dele aquietava algumas das minhas infinitas ansiedades.
Tenho medo de você não querer que eu o guarde (a verdade é que eu nunca soube se você queria).

A palavra é: desilusionada.
Eu sei que ela não existe. Assim como também não existiram todos os sonhos que acabei sonhando contigo aos pedacinhos...
Tive que inventá-la um pouco, para tentar me explicar.
Tive que inventá-los, também, para tentar me explicar a mim...
Quem sabe um dia eu os consiga explicar para você...