quinta-feira, agosto 16, 2018

Ela, que já não quer deixar de se sentir pulsar



A leveza da alma só foi atingida no dia em que se permitiu sorrir sem culpa. Já há algum tempo disseram-lhe que seus dentes não deveriam ser mostrados com tamanho despudor em suas fotos. Ouviu anos mais tarde que sua postura deveria ser diferente: saias menos curtas, cabelos mais longos e ausência de palavrões. Gestos espalhafatosos, então? Absurdo! Não combinavam com seu lugar de mulher e futura esposa. Quando decidiu ser professora, seguir a vida acadêmica exigiram-lhe seriedade. Que tipo de aluno respeitaria professora que abraça, fala da vida pessoal e se preocupa com o que acontece fora da universidade? Teria que ser distante, fria, ausente. Não se contentou com isso, embora tenha tentado. Optou por manter sorrisos e mãos firmes. No trabalho e na maternidade. Dedicou-se a cada dia à filha. E aos amigos. Ah, seus amigos. Sem eles, sem elas, ela nunca foi nada. Na época da escola aprendeu que poderia cultiva-los e tê-los consigo para o resto da vida, onde quer que morasse. E eles, elas, viraram seu porto seguro. Viagens, reveillóns, rodas de cerveja. Poucos enterros, mas vários velórios. Juntos/as viram amores virarem decepções, dores, amargores. E juntos/as reergueram-se. Sem eles, elas, não seria a mãe que é. Aprendeu com cada mulher a ser afetuosa, cuidadosa, presente. Tem dias em que ela se acha foda, bonita, inteligente. Em outros nem tem vontade de sair da cama. Aí se lembra dos sonhos, dos ideais e se levanta. Não cabe mais em rótulos e, por isso, aboliu de sua vida aquilo ou quem nada acrescenta. Ainda leva algumas culpas, não se perdoa por algumas falhas. Mas dá de ombros. O tempo apertado diz a ela para se adiantar, correr para a vida. Só que ela aprendeu a valorizar o tempo fazendo nada (como está agora) ou achando que está fazendo algo importante. Não sabe se faz a diferença porque sempre quer fazer mais e mais pelo o outro. Talvez não dê valor ao tanto que realizou porque insiste em olhar para a frente. Para quem já quis que a vida cessasse, hoje demonstra imenso apego às batidas de seu coração. E ele pulsa forte. Ah como pulsa.

quarta-feira, agosto 15, 2018

Só 4 coisas


A minha escrita anda perdendo lugar pro meu namoro…
Hoje, por exemplo, enquanto ele não chega, tenho 5 minutos para dizer 4 coisas:

1.    Parece que existe uma idade máxima para se beber muito num bar;
2.    Depois dessa idade parece que temos que assistir novela e só.
3.    Essa idade só aplica a mulheres e viados (e varia entre os dois grupos).
4.    Acho que vou começar a fazer judô.

Na verdade, tem mais umas coisinhas:

Ando com vergonha de ser gente, quando essas criaturas que vem propor um teto para o meu porre se intitulam gente como eu.

Estou com muito medo de quando eu estiver no bar, todas as outras criaturas sentadas que se dizem gente, não fizerem nada, quando 6 broncos nos agridem, com palavras - quase paus.

Estou com medo de não dizer nada. Estou com medo de dizer errado. Estou com medo de dizer certo e apanhar. Estou com medo de ninguém ouvir.

Estou, acima de tudo, solidária e preocupada de estar tão longe de todxs que precisam ser acolhidxs nesses 5 minutos em que parei… para dizer essas 4 coisas.