segunda-feira, março 31, 2008

Despedida



Quem vai leva a lembrança,
E a vontade de ficar...
Leva as malas, as fotos,
E metade da saudade.

Quem fica
Fica com o vazio,
Com o gosto e o cheiro,
E com todos os lugares repletos de ausência.

Quem fica, fica com esperança,
E com a saudade inteira.

quarta-feira, março 19, 2008

Oito Grandes Amores


Estava hoje me lembrando de quantos relacionamentos que considerei “mais sérios” já aconteceram na minha caminhada em busca de algo que se pareça com amor... seja lá o que for isso!
Pensei também no que ficou, de todas as histórias sem final feliz que fazem parte da minha... e no que foi-se embora de mim – algumas ilusões, em mil pedaços, que não encontram mais morada em meu peito.
Aprendi demais convivendo com estes “ex”. Ex-amigos, ex-amantes, ex-irmãos, ex-filhos, ex-brinquedos educativos, eis: aqueles que não estão mais aqui, ao meu lado, como motivo de toda minha paixão.

Ao primeiro deles, agradeço pelas tardes passadas de mãos dadas em parques, ao som de um violão muito velho, de tão dedilhado para me fazer serenatas. Agradeço o amor de criança incondicional: ter sido verdadeiramente amada pela primeira vez, de um jeito tão inocente e bonito. E qual não é a minha surpresa quando, anos depois, nos encontramos novamente e, estava lá o mesmo amor, quando eu precisava demais. Agradeço e peço desculpas, por ter-me ensinado também que um amor não dura se a intensidade não for a mesma para os dois lados... espero que esta garota nova possa corresponder à altura o seu.

O segundo, foi um amor pelas drogas e pela liberdade. Foi um amor de outra cidade, para a qual eu viajava, moleca adolescente revoltada, a cada 15 dias, para encontrar esse menino e... todo o descontrole do mundo! Nem era você, mas a cerveja, o cogumelo e outras cositas más, que vinham junto. Era sair a pé para a balada, sem o controle dos meus pais. Invadir a casa do vizinho e nadar sem permissão... era só aventura, sem nenhuma, nenhuma poesia. Mas era uma aventura necessária. Obrigada por colocar-me outros óculos para ver este mundo tão pequeno e frágil...
E por me ensinar uma outra lição: foi o primeiro a me negar. E eu precisava ouvir um não algum dia. Pelo menos para saber como soava... me preparou para o que estava por vir!

Com o terceiro, aprendi a fazer sexo! Não que eu não fizesse antes, mas, com este, aprendi a confiar, a ficar à vontade, a não ter pudores! - lição útil para toda uma vida, quando se considera o sexo importante num relacionamento (e eu... considero... muito!) - Agradeço a intimidade e a proximidade que foi possível construir por tanto companheirismo. Foram muitas horas de filmes, jogos, músicas baixadas na internet, pizzas, praias e... cama! Saudades de alguém assoprar minha barriga e me matar de rir de vez em quando! Agradeço por estar lá, pro que fosse. Agradeço por estar lá até mesmo quando eu não queria, até que eu tivesse forças para me impor e fazer valer a minha vontade. Você foi a primeira coisa que precisei desfazer naquela época de total comodismo: um primeiro passo para tudo mudar. Obrigada por me fazer perceber que eu não tinha que ficar com você apenas por me sentir segura por "ter alguém", mesmo que eu não amasse esse alguém...

O quarto... era tudo, tudo, que eu queria num namorado! Era bonito, divertido, gostava de sair, estudava, trabalhava – tudo que mamãe pediu a deus! E, apesar de ter tudo isso, ele... me escolheu! Me escolheu num momento em que eu me achava a última escolha possível: ele foi meu príncipe, me resgatando num cavalo branco. E a vida dele era tão mais interessante que a minha, os amigos dele tão mais interessantes que os meus, que eu fiz a opção: deixei tudo que era meu de lado e fui viver essa outra coisa, dele, com ele. Qeria, também, ser uma princesa! E era como me sentia a seu lado... foi muito legal a princípio... até que eu comecei a notar seu completo desinteresse pelo que eu fazia, pensava e acreditava do mundo! Percebi uma falta de assuntos entre a gente, percebi uma cabecinha fútil e vazia que, simplesmente, não combinava com a minha. Obrigada por sua existência motivar a força que descobri aqui dentro para conseguir negar “tudo que mamãe pediu a deus” e me sentir bem... sozinha! Por me fazer perceber o quanto eu era boa, também, de um jeito diferente. E que, de agora em diante, eu poderia escolher alguém... e não apenas ser escolhida.
Agradeço, também, a receita de torta de banana da sua mãe – ela é uma ótima desculpa para se ter, sempre, alguém por perto!

O quinto... não: a quinta. Ela bagunçou todas as minhas convicções... e depois de passar uns dois anos confundindo minha imensa amizade sem motivos com minha paixão avassaladora, ela se revelou num dos piores momentos: no meio da minha dor de cotovelo pelo meu príncipe encantado. E... toca para a psicóloga! Descobrir se havia alguma coisa de errado comigo por ficar fissurada numa... menina! Obrigada por me fazer perceber que, além de cor, credo, tamanho, o amor também não liga para o sexo da pessoa-alvo... isso praticamente duplicou as minhas chances!
Obrigada por ser amiga para todas as horas. Obrigada também, por me fazer perceber que, quando se trata de amor, às vezes, mesmo que por algumas horas, as amizades se dissolvem, sem avisos.
Obrigada também por me negar tanto, tanto... que eu já nem ligo mais... e aproveito o que é possível. Sei que nunca vou ser completamente dona do seu coração... me falta uma coisa...
Não. Na verdade, talvez... te faltem muitas...

Agradeço ao sétimo por me lembrar como eu amava música... pelas voltas de carro para... ouvir música... pelas mensagens “nonstop” no meu celular, dizendo que deveria... ouvir uma ou outra música... por uma coleção de cds com... músicas fenomenais! Por me lembrar de como eu adoro falar sobre... música. E por me fazer descobrir que eu queria muito mais de ti, ao som de músicas maravilhosas, do que você poderia me dar. No meio de tantas músicas incríveis, ficou difícil escolher a nossa. Talvez porque ela nunca tenha tido espaço para existir de verdade. Talvez porque ela nunca tenha existido de verdade: uma confusa amizade, disfarçada de música de amor.

O oitavo... resgatou uma escritora que andava com preguiça de ler, passeando pelos cantos com um coraçãozinho despedaçado de papel na mão, com umas letras de música dos outros desenhadas...
De início, nem parecia nada... porque estes poetas surgem meio camuflados de falta de rima. Mas colocou em versos o meu jeito de sentar, fumar e ser e... foder (nossa! Que foda! Agradeço as fodas! Agradeço)!
Agradeço também construir a ilusão de musa: ser, mesmo que de faz-de-conta, aquela que inspirava e suspirava tantas poesias do moleque-velho que habitava aquele poeta.
E todo o desprezo depois... serviu para perceber o quanto a gente se deixa levar ao pé da letra pela metáfora... e saber que poesia se escreve também na leveza de amar e não apenas na força de se ter... e deixar...

Eu pulei um... o sexto...
O sexto... na verdade é apenas “o”... sem números. E eu nem sei bem o porquê...
Destaquei o parágrafo para colocar aqui tudo que foi especial... como eu me sentia, entorpecida, embriagada só de pensar nele, caminhando na rua... seu cheiro, toque, beijos... e tudo... todo aquele meu sonho que você era...
mas, ainda, não sei bem porquê: ainda cabe tanta tristeza e mágoa quando penso em você...
E como eu sentia medo de te dizer... que era isso: se havia, então, um amor da minha vida, daqueles que se fala com brilho estranho nos olhos... era você – e mais ninguém.
Agradeço, porque agora não há mais medo. E se algum dia, numa lua azul, meu coração permitir se entregar dessa forma novamente, eu vou dizer que te amo...
Vou dizer que deveria insistir mais um pouco, me decifrar... é tão simples...
E quanto tempo passou para que eu pudesse pensar em outros alguéns, sem doer, no fundo, que você não me quis... E quantos tempos forem necessários de novo para esquecer, mesmo que esse tipo de amor dure um dia... eu quero! Agradeço pois sei disso agora!

(E quando soprar uma vozinha acima do ombro... ela deve ser ouvida. Agradeço, porque agora acredito nela. Mas, não em você.)

domingo, março 16, 2008

Vinho

Fico triste quando, entre mim e as palavras, torna-se necessário um copo de vinho.
Pergunto-me por que tanto medo de tocá-las com meus dedos de poeta, o polegar e o indicador, caneta na mão, sábado à noite, eu e o papel.
Ali, vou desenhando cada uma, numa ternura sem jeito, aos tropeções do que a vida oferece em meus dias, meia-luz e um pouco de sono.
Timidez no traço da caneta, como se fosse novamente a primeira vez. Coloco as palavras em ordem, rabisco tudo que vem dentro, recomeço.
Amasso uma folha e duas e três. Como se fossem amantes enganados, como se o amor que fizemos nada fosse, como se eu nada sentisse – não é com meu sangue que assino as folhas em branco.
E uma dor pequenina e constante em cada letra que vai para a lata de lixo.
O que dói no que tenho a dizer não é o vazio com que as palavras surgem no papel, invisíveis a todos. Mas aquele que vem de mim.
Então é sobre ele que as letras dizem, não contando mais que minha história, mais que o que sinto.
O vinho... o vinho é ponte para o vazio: quando não há nada embaixo das mil cachoeiras que se visita, nada no beijo que beijei na terça-feira, nada aqui dentro de mudar o mundo, nada no pôr-do-sol avermelhado de hoje, só uma tristezazinha feia que nem tem razões... como juntar as letras no papel?
Um gole de vinho e sinto as maçãs do rosto esquentarem. Mais um e todo o corpo esquenta, como que preenchido por um calor necessário - mas alegórico.
Olho ao redor e já posso sentir uma vontade de rir do nada, da parede branca da sala e do corredor. E, me parece, perco a inibição no trato com a caneta e meia página já borrada do papel em branco...
Mas, apesar do riso, a tristeza continua lá. E uma saudade de tocar a folha em branco com a intimidade, firmeza e segurança de um marido de bodas de prata e não de um namorado tímido e amar as palavras de forma mais... apropriada.
O medo, bem verdade, é saber que parte deste meu amor aflora agora na pele, uma parte talvez cinza e sem graça, que tenho vergonha, mas que fica tilintando no peito, querendo ser escrita também.
Mais um gole de vinho e está aqui, no papel, uma amante de primeira viagem, fodendo com as minhas palavras!
(Acho que é esta mesma filha da puta que é responsável pelo meu susto ao acordar uns dias e olhar para o lado na cama de algum motel barato ao lado de... ui!)
Tristeza é contornada com vinho, motel barato e texto vagabundo.

terça-feira, março 04, 2008

Pegadas


Sorriu e foi embora
Deixou um desejo e uma vontade
Pequenos pedaços de chão caindo do meu céu feito água
Mais um passo, mais um
Derramando silêncios pelo caminho
Dançam palavras ao meu redor
Rodopiam esperanças, sonhos bobos
O mundo parece um lugar distante
Cartão postal
Um caminho percorrido a pé
Pés descalços, gestos fáceis
Um caminho percorrido só
De mãos dadas, encontros certos
Sorri e vem embora
Traz um segredo e uma prece.