quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Diz...


Tou aqui esperando só um sorriso,
Um aceno,
Um beijo nos olhos!
Tou que não caibo aqui dentro.
Dá só um sorriso,
Que eu abro meus braços,
Tão fácil...
Se você soubesse...
O tanto que guardo,
Pra quem descobrir...
Um aquário marinho,
Com tantos cardumes de todas as cores,
Pra você mergulhar.
E nadar aqui dentro
De mim.
Me empresta teu colo esta tarde?
É só um carinho
E eu falo baixinho no ouvido
Digo que te adoro,
Pra ninguém ouvir!
Nem você!
Basta saber...
E é só um sorriso,
Pode ser vagabundo,
De canto de lábio...
E sou sua.
Diz que gosta...
Que é de verdade essa vez.
Abre essa boca e me pede...
Abre um sorriso,
Que eu vou...

domingo, fevereiro 24, 2008

África!


Quais as chances de uma pessoa sentada no café, às 23:59h de um fim de sexta, estar vestindo uma camiseta onde eu li “África Jeep” e ter, realmente ido à África?
Apostei, ali, na cadeira do café, meu pai, minha mãe, minha avó e eu, voltando da apresentação desbundante do Cirque du Soleil que ele havia ido à África.
E aquela suposição tornou-o uma das pessoas mais interessantes nas quais coloquei os olhos. Fiquei criancinha, esperando o milagre acontecer. Havia de descobrir se ele esteve na África...
Em sua mesa, mais umas 7 pessoas, todas mais velhas, fumando charutos fedorentos, conversando em voz alta, com ajuda das mãos. Ele parecia distante – com sono, talvez, mas se esforçando para estar interessado.
Um calor subindo no peito, entre alguns olhares trocados.
A garçonete era a minha chance...
Corri ao banheiro, coração disparado (não sei porquê! Mas batia tão forte!), arranquei um pedaço do envelope onde estavam os restos dos ingressos do circo e escrevi, sem nem perceber direito o quê, a letra, como. De repente estavam lá, todas umas frases para ele, que, se tivesse ido à África, seria muito, mas muito especial para mim (de onde se tira essas conclusões mágicas?).
“Te achei completamente interessante. Será que você realmente foi à África? Ou é apenas uma camiseta? Preciso saber! Me manda a resposta por e-mail?” – e o e-mail, e a assinatura.
Quando voltei do banheiro, papelzinho dobrado na mão suada e bem fechada, como se fosse uma borboleta que poderia voar para longe, sentei-me de novo à mesa e fiquei só observando. Não escutava nada do que meus pais diziam e tentava ignorar o francês horroroso que me olhava como um velho lobo na mesa ao lado.
De repente, tudo deu uma reviravolta: ele se levantou da mesa e entrou na revistaria, lá para dentro do café. E, de repente, meus pais pagaram a conta e começaram a esboçar um adeus ao café...
Em qual meio-termo eu me aproximaria da garçonete para entregar o bilhetinho azul-marinho do pedaço de envelope onde se depositaram esperanças estranhas minhas?
Minha avó foi na frente, seguida pela minha mãe e meu pai, em direção ao carro. Fiquei por último.
A garçonete estava parada na porta, entre o café e a revistaria. Ele estava na revistaria, voltando para a porta.
Será que passaria pela cabeça dela a possibilidade de se tornar, naquele instante, como que uma fada-madrinha que realiza meus desejos bobocas, vira uma ponte, um fio de telefone, um pombo-correio encantado? Duvido.
Puxei-a de lado e disse ao pé do ouvido: “por favor, entregue esse bilhete ao menino de cavanhaque e blusa preta. Ah! Ah! Blusa preta escrito África!”
Ela fez que sim, meio sem entender. Agradeci e saí.
Saí correndo em direção ao carro, com medo de olhar para trás, com medo que ele tivesse escutado porque estava tão perto, com timidez mesmo, daquelas que, às vezes, nos impedem de fazer coisas importantes!
Entrei no carro. Meu pai deu a partida. E eu voltei a respirar.
No caminho para casa, mesmo o sono apertando, não pude deixar de pensar que, talvez, a garçonete não entregasse o bilhete.
Ou que o entregasse à pessoa errada. Quantas pessoas com camiseta escrito África poderiam estar ali naquela noite? Meu deus! E se ela não tivesse entendido o que eu disse e o entregasse ao francês?
Pensei também que, mesmo que ela entregasse o bilhete ao cara certo, ele pudesse me achar uma louca, ou extremamente infantil, que era como eu me sentia naquela hora: uma menina que entrega um bilhetinho ao menino que gosta assim, sem razão especial: apenas uma camiseta escrito África.
Acordei e fui checar meus e-mails. Não havia nenhum sinal dele, ou da África.
Talvez ele até pudesse achar tão interessante quanto eu falar da camiseta escrito África, mas tenha perdido o bilhete com o meu e-mail.
Talvez... isso que estou pensando ser uma tremenda intuição sobre uma coisa que eu não sei o que pode ser, entre mim e aquele estranho da camiseta da África, seja apenas um desejo muito forte do inesperado faz-de-conta que espanta solidão... porque tenho sentido solidão!
Uma certa magia, mesmo que só um pouquinho mágica, mesmo que não tenha nada de mágica a não ser em mim, debulha um amargo do cotidiano e aponta o que ficou na caixa...
Acho que o circo fez isso comigo e eu nem notei o que me movia: eram aquelas cores, a música, os palhaços, os trapezistas...
me puseram uns óculos românticos.
Afinal, o que havia de tão importante naquela camiseta? Era um pano e uma palavra!
Olhando e-mails hoje de novo e, entre tantos outros assuntos e bobagens que eu ia deletando vorazmente, esperando que o próximo dissesse...

E, entre tantas outras coisas, dizia...

África!

(...)

“Estive na África no ano passado. E foi a melhor viagem da minha vida...”
E estava lá a minha resposta.

sábado, fevereiro 23, 2008

Gerânio


Sei que a função do blog não é postar letras de músicas. Mas eu queria dividir essa com vocês. Aí está uma música que eu acho linda e eu acho que tem um pouco de cada uma de nós (ou de partes das nossas histórias) nela...

Gerânio

Nando Reis, Marisa Monte, Jennifer Gomes

Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente

Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes

Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga

Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema

Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Aplausos


Obrigada, obrigada!
Aplausos para este embuste patético de mulher. Que corre de um lado pro outro da casa, desesperada, um telefonema.
Do outro lado da linha, voz bem longe de menino e promessas do sol, da lua, das estrelas e da noite, tudo junto, trocados, gentilmente, por meia-dúzia de gemidos.
Até parece que o dia ficou mais alegre, o ar menos denso, os problemas menos insolúveis.
Mas a troca está feita. Compre logo estas passagens e venha se banhar aqui, no meio do meu deserto particular.
Ando esbanjando solidão a dar com pau. E uma sede, de ressaca daquelas bem mal-dormidas, sem pressa de ver a manhã batendo na janela do bar.
É verdade, quedando para os lados, joelho torcido e um nó na garganta, de vontade de soltar uma franga antiga pelos ares, chutar o balde mesmo e começar a me desimportar.
É minha nega. Falta um meio ano de pé na jaca, mais um meio de pé na tábua para ver no que se chega.
Se for numa barraca armada numa praia e muito sol num dezembro/janeiro sem fim, todos viverão felizes para sempre.
Mas, se não for...
Vou curtindo esses demoniozinhos que deram para alugar os meus ombros sem fiador, sem contrato e, ainda, me dando o calote no segundo mês.
Eles vêm e vão, puxando meus cabelos, tilintando nos ouvidos, me deixando, além de tudo numa outra insônia, poderosa, daquelas que sofrem os que se dizem escritores quando desaprendem, subitamente, juntar letras no papel.
Ainda por cima, o cara da loja de eletrônicos fica me enrolando pra consertar e devolver logo meu despertador.
E eu aqui sonhando, preciso acordar!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Peito


Cerquei-os de flores,
Estes dois seios não muito percebidos,
pouco tocados, pouco olhados.

E, empinados para frente,
fazendo vez de armaduras invisíveis:
Pára tudo, no peito!

E, para todos, o peito:
aberto e exposto,
às idas e vindas do tempo

No regaço, um abraço,
Acomodando toda a tristeza alheia,
dores de saudades...

Carregando, no bico,
uma criança, uma dança...
Num suave respirar.

Infla o peito e segue...
Quando o que se sente é cansaço,
ele a empurra para um pouco mais adiante

E quando o que se sente é medo,
inspira e se esconde,
Atrás de um par de seios.

Um toque, no colo,
E um suspiro intumescido
Projeta-a para amar

Um canto forte, vem do peito:
Chamado selvagem
De voz feminina.

Entre estes dois seios,
Pulsa uma alma de mulher.
Mas não se preocupe: ela ocupa um corpo inteiro.

Mais de mim



Hoje fui tomada por sensações antigas. Coisas que estavam guardadas se fizeram visíveis novamente. Nem melancolias, nem tristezas ou arrependimentos...mas uma sensação de fazer as pazes comigo tomou conta da minha casa, estava transbordando de mim, pelos gestos, palavras, olhares. Engraçado como essas coisas acontecem. Chorei de alegria por coisas que eu já esperava, definitivamente não foi por estar surpresa, foi por poder novamente me sentir segura, me sentir mais leve, me sentir mais eu. Muitas vezes me perco de mim. Algumas vezes me encontro, em algum canto, um pouco cansada e sempre ansiosa. Mas hoje o encontro foi diferente. No canto, o cansaço deu lugar à vontade, a ansiedade abriu caminho pra uma sensação de sossego, coisas antigas, que já não via há algum tempo. Hoje me senti voltando pra mim, voltando pra minha vida, pronta pra começar tudo de novo, relembrando desejos e sonhos. Hoje tive um pouco mais de mim...

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

sozinha



Hoje eu queria ficar sozinha... caminhar na praia vazia.
Eu vazia. Sem sentimentos, sem lembranças, leve e livre.
Mas parece que nesses dias todas as coisas vêm...
Medo, cobranças, tristeza, perdas... Telefonemas, compromissos, trabalhos, propostas, cantadas...
E eu não estou em mim.
Meus amigos estão ocupados, meu cachorro está doente, minha amiga confidente foi embora, meu ex quer voltar e meu coração está longe...
Choro para amenizar essa angustia que me consome.
Mas não esvazio...
Encolho-me como se pudesse me esconder do mundo, mas ele está comigo o tempo todo e quando vejo mar existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem... Espero... sozinha...