sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Aplausos


Obrigada, obrigada!
Aplausos para este embuste patético de mulher. Que corre de um lado pro outro da casa, desesperada, um telefonema.
Do outro lado da linha, voz bem longe de menino e promessas do sol, da lua, das estrelas e da noite, tudo junto, trocados, gentilmente, por meia-dúzia de gemidos.
Até parece que o dia ficou mais alegre, o ar menos denso, os problemas menos insolúveis.
Mas a troca está feita. Compre logo estas passagens e venha se banhar aqui, no meio do meu deserto particular.
Ando esbanjando solidão a dar com pau. E uma sede, de ressaca daquelas bem mal-dormidas, sem pressa de ver a manhã batendo na janela do bar.
É verdade, quedando para os lados, joelho torcido e um nó na garganta, de vontade de soltar uma franga antiga pelos ares, chutar o balde mesmo e começar a me desimportar.
É minha nega. Falta um meio ano de pé na jaca, mais um meio de pé na tábua para ver no que se chega.
Se for numa barraca armada numa praia e muito sol num dezembro/janeiro sem fim, todos viverão felizes para sempre.
Mas, se não for...
Vou curtindo esses demoniozinhos que deram para alugar os meus ombros sem fiador, sem contrato e, ainda, me dando o calote no segundo mês.
Eles vêm e vão, puxando meus cabelos, tilintando nos ouvidos, me deixando, além de tudo numa outra insônia, poderosa, daquelas que sofrem os que se dizem escritores quando desaprendem, subitamente, juntar letras no papel.
Ainda por cima, o cara da loja de eletrônicos fica me enrolando pra consertar e devolver logo meu despertador.
E eu aqui sonhando, preciso acordar!

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