sábado, setembro 29, 2007

Bom mesmo...

É saber que você está aí
Sem que eu precise me preocupar.

É te amar assim, de longe,
Te idealizar.

É não ter que lidar com as coisinhas pequenas
E belas.

É não ter que te ouvir reclamando,
Saber que você sempre será perfeito, assim:
De longe...

Pensar em você o dia todo,
Uma imagem distante, um sonho constante.
Aqui, no meu peito.

Bom mesmo é que esse você me acalma demais,
Não me tortura, não me consome.
Você some.

É tratar os teus gestos na minha memória,
Re-inventar suas mãos,
Sentir falta do que não existe além da minha convicção.

Bom mesmo é lembrar teu sorriso,
Um gesto preciso,
De apaixonar.

Tocar o teu beijo,
Como se o desejo,
Explodisse no ar.

Mas, apenas em sonho acordado,
Te sinto ao meu lado,
E acredito...
te amar...

quinta-feira, setembro 27, 2007

Um gosto de amar

Transbordava um amor sem fim, mas,
sem rosto, sem corpo, sem gosto:
Não, definitivamente, não era incapacidade de amar...

Era um amor pela própria paixão!
Pela cegueira inebriante do romance,
pelo exercício poético de o inventar

Sendo assim, ao vislumbrá-la, menina, tornou-a sua musa:
declamou-a em todos os seus contornos.
Recriou-a, enfim: seu próprio ar

E respirou-a em manhãs geladas,
devorou-a em noites ardentes,
deu-lhe asas, para que pudesse voar

Por medo, deu-lhe também uma gaiola dourada,
construída de letras e toques,
como ninguém antes havia conseguido lhe dar

Ela recebia cada vez mais palavras, que ainda mais a cercavam,
que ainda mais a amavam e a confortavam
e que permitiram que ela também, pudesse por ele se apaixonar.

Mas, dentro da gaiola, ele examinou-a com lupas,
procurando os detalhes ainda a descrever.
E, olhando tão de perto... perdeu-a!

Perdeu a paixão de vista, de tanto compreendê-la
de tanto entendê-la, sua musa esgotada,
a quem já não podia admirar...

No estranhamento do adeus,
a paixão repousava num muro, indo embora,
o amor movia-se... para algum outro lugar...

Parece que agora,
anda às cegas, escrevendo poesias
ainda, a buscar...

Um outro corpo, um rosto para o seu amor
um gosto:
Um outro gosto de amar.

terça-feira, setembro 25, 2007

Momento

Felicidade: palavra estranha de largos passos. Alguns sempre à frente, mas, em sua maioria,
sempre para trás.
Sonha-se, à frente, a felicidade: na barriga que cresce sorrindo o porvir;
na fantasia do beijo que ainda não aconteceu;
na linha de chegada, quilômetros à frente...
Lembra-se para trás: aquela primeira viagem, muito mais para dentro de si, do que para fora do estado;
um “eu te amo”, baixinho no ouvido, sob imenso céu azul;
quatro horas de cervejas e discussões e besteiras no bar da esquina;
uma bicicleta nova trazida pelo velho Noel...
A cada música tocada, um pedacinho dos passos é reconhecido pelos pés. Fecha-se os olhos como se este movimento nos levasse de volta para lá: lá do passado e lá do futuro:
um gosto de jabuticabas estourando no céu da boca; um cheiro de quarto de avó; um castanho-esverdeado dos olhos...
Mas,
Quantas vezes se sente, sem passos à frente ou, cem passos atrás? Parado, ali, o gosto da jabuticaba?
Quando, estático? Como se flutuasse rasante o olhar naquele minuto?
Uma vez:
O tempo suspenso, enquanto, do teto do céu, via-se as quatro amigas no carro, descendo o morro cantando e dançando aquele minuto estacionado entre os universos.
Uma vez:
No ir e vir da rede, uma hora fria em que se confessa, embriagado, a paixão...
Uma vez:
Uma tarde jogada debaixo de cobertores, embalada por um silêncio sincero entre amigas.
Uma vez:
A música de que não se lembra tocando brincalhona numa rádio de cidade do interior.
Uma vez, uma lagoa tocando seus pés num dia quente de verão.
Uma vez a emoção de voltar a enxergar sem nenhuma lente. A saudade de casa. O nhoque da outra avó. O sorriso do pai. O passeio com cachorra!
Uma vez...
E... quando de novo?
Me coloco a imaginar uma nova cena. E os passos, novamente, adiante!
A felicidade, tomando o caminho da ansiedade, estranha a passos largos. Quando, de novo?
A felicidade, de novo, saudade do que foi e do que está para nascer.
Uma vez...
mais.
Mari Brasil

terça-feira, setembro 18, 2007

Eu sei..

As conexões estabelecidas naquele sol nascente,
Ainda me prendem a você...

Eu sinto; eu sei.

E não precisas de palavras,
Apenas teus gestos, ainda que virtuais, me dizem:
Não há amigos ou festa,
Não há trabalho nem sesta,
Deleita-se agora nos braços de outra mulher.

Acalma-me saber que a vida tem dessas coisas...
Eu mesma procurei refúgio,
Em vão...

Pois não cheirava como você,
Não beijava como você,
Porque não era você...

Assim anseio tua noite:
Desejo que procures e não encontres
Meus beijos em outras bocas.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Uma noite com um garoto de programa

A festa não estava muito boa. Mas de repente um moreno não muito alto me chamou a atenção. Pele clara, cabelos e barba escuros, bem desenhados. Logo reparei nos brincos. Dois na orelha esquerda. Imaginei um terceiro em vários lugares, mas ficaria bom mesmo na outra orelha. Ele estava impecável. Elegante e discreto, mas sensual! De longe chegava a ter uma cara de mal. De perto logo vi que era charme. Fomos apresentados. Fiquei meio sem jeito e ele foi gentil. Conversamos longos minutos parados em pé. Depois sentamos um pouco. Logo me disse que era garoto de programa. Nas horas vagas trabalhava com informática, mas naquela noite estava de folga.

Os olhares curiosos não sei bem se buscavam ao meu lado uma outra companhia ou se se admiravam com a elegância do moço. Não me sentia exatamente desconfortável com aquilo. Mas também não tinha expectativas, afinal um garoto de programa poderia dar trabalho. Ele sugeriu caminhar. Queria entre outras coisas, aproveitar a cidade já que a noite estava quente. E eu parecia uma companhia interessante. Aceitei. Para minha surpresa conversamos por horas. Estava ficando cada vez mais interessada.

Ele me provocava sem perceber. Não conseguia entender se era o rosto bonito, o papo gostoso, o cheiro bom, ou a apenas a minha carência. Ele continuava fazendo charme. Eu não lembro direito o que falava, mas lembro como seus lábios se mexiam, excessivamente provocantes... Eu já não tinha certeza das minhas intenções...

Mas um garoto de programa? Tão seguro e tão sexy, tinha medo de não dar conta. E se ele estava de folga, seria bem mais caro também! Definitivamente minhas chances pareciam mínimas.

Ele continuava a falar, a sorrir, fazer charme e contar histórias... Adoro ouvir histórias! Mas não conseguia controlar meus pensamentos, estava apenas desejando. Queria ser o cigarro que ele acendeu naquela hora, pegou com delicadeza, mas puxou forte. Queria estar naquela tragada e ser a fumaça entrando no seu corpo...

E as mãos? Que mãos! Geralmente os homens não cuidam das mãos, mas ele... Estava até usando anéis, três. Um deles no dedão da mão esquerda absurdamente sexy. De fato era um garoto de programa.

Quando o cigarro acabou a conversa cessou, ficou um silêncio confortável. Olhei nos olhos dele como se pedisse algo e numa sintonia desmedida ele me beijou. Garotos de programa beijam nas horas de folga! Segurou meu pescoço e me beijou forte. Sabia como dar os comandos. Eu sabia que ele entendia do código de máquina, mas naquele momento parecia decifrar o meu... Executava com desenvoltura uma seqüência de instruções dadas em silêncio. Podia escutar apenas os meus gemidos.

Criamos uma lógica binária própria naquele instante. Era 1 e 1. Aceso e mais aceso! Eu deixei. Estava atenta a outra linguagem. Respiração ofegante, taquicardia, vaso constrição, sudorese. Tudo indicava um bombardeio de dopamina e noraepinefrina, em suas fendas sinápticas. O sistema límbico, processador natural, estava altamente ativado. Mas a unidade de controle seguindo a lógica da vida e não das máquinas, parceria deveras confusa. Onde estava a mão? A língua? A minha nuca na sua boca.... Diante de tantos estímulos e diferentes comandos ele me desconfigurou... Eu deixei. Já era de manhã e com a sutileza dos homens e não das máquinas vimos o sol nascer, com algumas promessas não sei bem de que...

terça-feira, setembro 11, 2007

Me fugiu



Me fugiu a cachorra hoje de manhã. Com ela, toda a minha paciência, minha facilidade, meu bom-humor. Era isso: a cachorra brincando comigo na rua era o destino me sorrindo orgulhoso, me avisando “cuidado, não se permita larga extensão do sorriso”...
A cachorra pulava de um lado para o outro, corria no meio da rua, bem na hora em que eu saía, já atrasada, morrendo de sono, para a aula. E eu sentia alguém bem longe rindo às minhas costas, zombando das minhas tentativas vãs de segurar a bichinha... me escapando pelos dedos, sem que pudesse fazer nada.
Uma coisa tão boba... e eu chorei! Como uma criança! Como viver assim? Rodeada de uma sensação de impotência que penetra os ossos? Ainda sou essa criança? Quando foi que eu esqueci de crescer, onde foi que não aprendi essa parte?
E depois de conseguir ajuda e de prender a cachorra, esse sentimento tomou conta de todo o dia: foi um guarda-roupa que o cara não veio montar, foi um trabalho que eu estou com medo de não conseguir fazer, foi encontrar aquele homem no meu café e não saber o que dizer, como agir. Ele também, me escapando por entre os dedos...
Cheguei em casa e sonhei que minha mãe me levava para cortar os cabelos. Estou me sentindo feia e vazia. E constantemente agoniada com essa sensação de impotência. Cortar os cabelos significa que está na hora de mudar. E as mudanças me apavoram demais.
O choro por não conseguir dominar aquele animal talvez fosse outro: não chorei ainda a sua perda. Mesmo porquê, como a cachorra, ainda imaginava que ele me escapava pelos dedos e não, que já havia escapado.
Sonhei, anteontem que o encontrava. E que ele me olhava fundo e perguntava se eu finalmente havia ido lhe pedir perdão.
Pedir perdão? E eu ainda tenho culpa? Não sei do que sinto essa culpa! Mas ela vive aqui dentro e me trava todas as vezes que o vejo. Por que? De que?
É como se eu chamasse a cachorra e, quando ela chegava perto, tentava agarrá-la pela coleira, ao invés de lhe fazer um carinho. Foram tantas as vezes em que não consegui, que ela não veio mais, desconfiada. É como se eu tivesse feito algo errado que o afastava. Mas, sem saber o que foi, continuei fazendo e esse algo o afastava, cada vez mais. E eu via a cachorra sumindo no mato, como via o olhar vago dele, sumindo de mim...
Parece que a culpa é minha se ele agora me olha desconfiado. É minha?
Controle: se a culpa foi minha por deixar a cachorra solta ao abrir o portão... eu controlei isso? Abri o portão pra ele? Mostrei a rua? E, se mostrei, por que ele quis? E, como ela, não atendeu o meu chamado? E não voltou pra mim?
Aí eu me torno assim... tão desinteressante, feia e vazia... muito mais do que a rua cheia de folhas e um galopar pelo mato alto... mas a cachorra foi para mato alto! Isso eu posso entender! E ele... ele entrou em outro portão! E lá ficou, com ele ainda aberto!
Nessa hora, sempre me pergunto o que há errado com o meu portão... como se tivesse algum controle sobre as suas preferências de portões abertos! E sinto vontade de me desculpar, mesmo sem ainda compreender o porquê. Como a cachorra, ele nunca me disse, pois talvez, nem mesmo ele saiba...
Portanto,
perdão,
Me perdoa por ter te mantido do lado de fora do meu portão por muito tempo, te observando lá de dentro com medo de te deixar entrar. Você era um estranho. E eu nada via da sua beleza.
Ignorei a sua vontade de entrar e até ri dela... dessa sua insistência inicial tão bonita, como a da cachorra para sair. Lá dentro, estava ocupado. Você precisou forçar meu cadeado...
Perdão por ter te visto sempre como um visitante e nunca como um morador. Você me parecia por demais vira-latas para querer ficar... e eu não podia me apegar... quando os cachorros fogem para o mato alto, eu fico triste... sinto falta.
Perdão por ter exigido uma postura para permanecer dentro do meu portão. Sei que você queria correr por tudo ao seu prazer, mas eu sou muito dura... quero as coisas como eu quero. Assim como você...
Perdão por não reconhecer todas as suas dimensões e te encarar apenas como um brinquedo novo...
Perdão por não ter corrido atrás de você como nunca, como corri atrás da cachorra hoje de manhã. Quem sabe eu conseguisse também alcançá-lo. Quem sabe, o convencesse a voltar pra casa. Não fiz isso porque pensei... que você sempre fosse estar lá. Porque duvidei do seu ímpeto de ir embora.
Perdão por não ter o portão de sua escolha. Por não caber nos seus sonhos de portões...

Por tudo isso,
eu me perdôo.
E, agora, posso cortar esse cabelo.

sexta-feira, setembro 07, 2007

A nossa amizade

Nossa amizade é estranha. O teu olhar me acalma.
Você me cuida com toda atenção: sempre tentando me deixar confortável.
Pega minhas coisas quando eu as esqueço. E eu acho muito gostoso.
Você me liga e me convida pra almoçar.
É tão natural te encontrar. Meu sorriso se abre espontâneo e o seu também.
Eu te encho muito o saco. E adoro tirar uma com a sua cara. Sei que você também tenta... talvez um dia chegue lá!
Conversamos sobre tudo. Apesar de você não me contar muitas coisas. E eu também não.
Você consola minhas dores, me anima. Brinca muito comigo.
Quando chego nessa cidade, é em você que penso em primeiro lugar. Louca pra te ver! Mas, sem complicações. Você é um carinho pra mim. E eu, um carinho pra você.
Quando estou longe, nem lembro da sua existência. Sei que você também não. Talvez, como eu, só às vezes...
Hoje, tenho pensado mais... tenho pensado de outras formas. Que me dão medo de perder essa cumplicidade que inventamos à primeira vista.
Tenho sentido mais vontade de te tocar do que o usual. Mais vontade ainda de estar junto conversando e encarando seu jeito tímido.
Tenho sentido sua falta...
Fico com medo de acabar confundindo as coisas. Mas... acho que, só por pensar nisso, já devo estar confundindo...
Espero a próxima semana com muito mais vontade. E te encontrar já não está mais tão natural.
Por enquanto, está gostoso brincar desse outro jeito de te gostar...
Isso não quer dizer que eu vá te contar tudo isso. Afinal, a gente não conta tudo um pro outro. Seria bom se você percebesse. E que gostasse também.
Nossa amizade poderia ser de outro jeito, igualmente estranho, mas mais...

Mas se não for, que continue sempre assim: você me chama e eu venho. Eu te conto e você ri. Você pisca e eu entendo. A gente se vê e tudo fica leve...

Saudade da Saudade

Hoje, nesse relance flutuante... te encontrei ao acaso. Não tanto ao acaso, quanto caso. Espiei o lugar e entrei. Imaginei que não era você lá. Mas, era. E beijei seu rosto como se de um conhecido desimportante. Senti seu rosto o de um conhecido. Quando sentia, antes, um completo desconhecido, que me assombrava e me desnudava e me apaixonava.
Vejo você caminhando na rua e penso em sorrir, dar um "tchau". Como qualquer outro ser que caminha o meu caminho oposto. Ensaio o abanar de mãos e me calo. Entalada. Não entendo seus desapegos. Nem pretendo, mais, entendê-los. Mas, respeito. E, de longe, curto uma saudade infantil, que na verdade, nem existe mais.
É saudade da saudade...
Me aquieto por aí. Tento não transcender o teu espaço. E sinto falta do meu, que estava construindo ao seu lado. Acabei perdendo esse espaço no meio de toda aquela confusão. Mas...
Agora eu moro aqui. E você também.
Em que lugar começa a minha casa e termina a tua?
Onde eu ando e você me escapa, parece o lugar certo. Errado mesmo é onde eu ando e você teima em aparecer!
Espaço onde eu não encontro mais o meu caminho pra casinha de cerca branca, com uma cachorra Bonita me esperando na porta.
Aquele bar é meu. O teu era outro. Por que você vai lá?
Parece que vamos acabar nos encontrando mais vezes. Parece também bobo, pensar sobre o que fazer nestas vezes. Mas eu penso, em todas elas.
E me vem à cabeça um mapa mundi dividido: meus territórios pra cá... seus territórios pra lá...
Para continuarmos travando essa guerra fria.
Porque o certo mesmo, seria não te encontrar mais. Mesmo porque, já não é mais você.
É a saudade da saudade...

Devaneios...



Uma outra noite eu acordei. Deparei-me com uma realidade tão cinza, despida de todas as minhas fantasias que já não tinha mais graça. Olhei aquelas pessoas, aquela situação, aqueles sentimentos e estranhei TUDO! O cheiro, a temperatura, as fisionomias, aquelas conversa estranhas... Nada fazia sentido. Busquei uma explicação: por que estava ali? Por que tinha chegado até ali? Eram vampiros e lobisomens sedentos e eu ainda estava ali. Por quê? Eu olhava aqueles olhos, ouvia aquelas risadas e não queria estar ali... Eram outros, não eram mais os mesmos... Ou seria eu não mais a mesma? Os gestos me irritavam, as conversas eu desconsiderava, os planos ignorava, e eles insistiam em estar ali... Por quê?
Num instante de distração, porém, enquanto todos se imginava SER: acordei!