sexta-feira, setembro 14, 2007

Uma noite com um garoto de programa

A festa não estava muito boa. Mas de repente um moreno não muito alto me chamou a atenção. Pele clara, cabelos e barba escuros, bem desenhados. Logo reparei nos brincos. Dois na orelha esquerda. Imaginei um terceiro em vários lugares, mas ficaria bom mesmo na outra orelha. Ele estava impecável. Elegante e discreto, mas sensual! De longe chegava a ter uma cara de mal. De perto logo vi que era charme. Fomos apresentados. Fiquei meio sem jeito e ele foi gentil. Conversamos longos minutos parados em pé. Depois sentamos um pouco. Logo me disse que era garoto de programa. Nas horas vagas trabalhava com informática, mas naquela noite estava de folga.

Os olhares curiosos não sei bem se buscavam ao meu lado uma outra companhia ou se se admiravam com a elegância do moço. Não me sentia exatamente desconfortável com aquilo. Mas também não tinha expectativas, afinal um garoto de programa poderia dar trabalho. Ele sugeriu caminhar. Queria entre outras coisas, aproveitar a cidade já que a noite estava quente. E eu parecia uma companhia interessante. Aceitei. Para minha surpresa conversamos por horas. Estava ficando cada vez mais interessada.

Ele me provocava sem perceber. Não conseguia entender se era o rosto bonito, o papo gostoso, o cheiro bom, ou a apenas a minha carência. Ele continuava fazendo charme. Eu não lembro direito o que falava, mas lembro como seus lábios se mexiam, excessivamente provocantes... Eu já não tinha certeza das minhas intenções...

Mas um garoto de programa? Tão seguro e tão sexy, tinha medo de não dar conta. E se ele estava de folga, seria bem mais caro também! Definitivamente minhas chances pareciam mínimas.

Ele continuava a falar, a sorrir, fazer charme e contar histórias... Adoro ouvir histórias! Mas não conseguia controlar meus pensamentos, estava apenas desejando. Queria ser o cigarro que ele acendeu naquela hora, pegou com delicadeza, mas puxou forte. Queria estar naquela tragada e ser a fumaça entrando no seu corpo...

E as mãos? Que mãos! Geralmente os homens não cuidam das mãos, mas ele... Estava até usando anéis, três. Um deles no dedão da mão esquerda absurdamente sexy. De fato era um garoto de programa.

Quando o cigarro acabou a conversa cessou, ficou um silêncio confortável. Olhei nos olhos dele como se pedisse algo e numa sintonia desmedida ele me beijou. Garotos de programa beijam nas horas de folga! Segurou meu pescoço e me beijou forte. Sabia como dar os comandos. Eu sabia que ele entendia do código de máquina, mas naquele momento parecia decifrar o meu... Executava com desenvoltura uma seqüência de instruções dadas em silêncio. Podia escutar apenas os meus gemidos.

Criamos uma lógica binária própria naquele instante. Era 1 e 1. Aceso e mais aceso! Eu deixei. Estava atenta a outra linguagem. Respiração ofegante, taquicardia, vaso constrição, sudorese. Tudo indicava um bombardeio de dopamina e noraepinefrina, em suas fendas sinápticas. O sistema límbico, processador natural, estava altamente ativado. Mas a unidade de controle seguindo a lógica da vida e não das máquinas, parceria deveras confusa. Onde estava a mão? A língua? A minha nuca na sua boca.... Diante de tantos estímulos e diferentes comandos ele me desconfigurou... Eu deixei. Já era de manhã e com a sutileza dos homens e não das máquinas vimos o sol nascer, com algumas promessas não sei bem de que...

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