Ou a gente é puta, ou cozinheira.
Ou a gente é boa pra casar, ou é boa pra foder.
Ou a gente é amante, ou é mãe.
Será que ainda não repararam que a gente não se resume a essas dicotomias baratas?
Esse blog é pra deixar isso bem claro, com muito bom humor.
Recomendo às mulheres que o leiam, pra evitar uma porção de frustrações, conflitos internos e muita grana em terapia.
E, aos homens, para poderem, novamente, serem chamados de gente.
Ou... vão ser botados pra correr!
E a verdade... É que eu faço o exercício de te negar todos os dias e quando você me diz “oi” tudo desmorona e eu não te nego. Eu respondo “oi” e finjo que tudo que tenho a dizer tem a ver com a temperatura. Que é sexta à noite e eu tenho raiva de não querer sair e me perder noite afora. Que eu queria demais, juntar meus trapos e fingir que não há nada de errado, apenas o calor. Mas tudo está errado.
E o que eu queria dizer... É que eu estou desapontada. Porque se espera tanto de quem não se deve esperar nada. E... por que esperar alguma coisa? E por que, mesmo você me judiando, eu ainda lembro só as coisas boas e queria você junto, agora, sempre... e... por que diabos você me dá oi? E por que eu respondo?
E o que eu reflito... Que o meu umbigo está cansado de tanto se recriminar. E que eu me arrependo de ser quem eu era e de te mostrar. E de querer mudar quem eu sou agora, só no meio (fim) do caminho com você. E de dizer tantas coisas que te fizeram me significar assim, acreditando que veria abaixo dessa superfície de defesa. E que nunca me senti tão bonita. E que descobri que isso não ajuda em nada.
E o que eu quero... Quero parar de vincular meu prazer a você. Quero ser cuidada. Que eu já fui foda por tempo demais. Cansei. Ta doendo aqui dentro. Ta doendo, e eu admito.
E a culpa é minha mesmo. Porque eu sinto as coisas muito certo. Mas eu tento não prestar atenção nisso. E tentar ser mais racional e forte e dura e persistente. Mas eu acabo misturando tudo.
Eu tento acreditar em meia-dúzia de coisinhas que você diz, em geral quando bebe muito, mas muito mesmo. E ignorar todas as outras bilhões coisas que você diz, que você faz. Que você não vem quando eu chamo. Que não me diz bom dia, que não está ao meu lado quando eu acordo.
E eu vou te falar de novo, pra ver se você entende: você não é legal comigo. Você não age bem comigo. E eu não sei o porquê... e fico tentando fazer você mudar de idéia, sei lá do quê, e me tratar bem. Mas não dá.
Eu não sei pelo que você está me punindo. Eu não sei bem porque tenho deixado. Talvez eu goste de mim menos ainda do que você gosta...
E esse negócio de não confiar em mim é faz-de-conta. Com que você se contenta em me torturar e derramar suas culpas em mim.
Diga, na minha cara, que aqui não tem nada. Porque você nunca me viu...
Aos fins de semana eu visto uma fantasia e vou a algum bar, representar um papel. Eu pinto meus olhos e uso salto.
Eu flerto, eu danço, eu bebo. Eu falo muito alto e muita bobagem.
Eu não conto a ninguém que eu faço doutorado, porque ninguém entende muito bem o que é isso e isso não me representa, nem na universidade. Eu sou um completo desencaixe.
Ali no bar eu quero voltar a ser comum, pensar em coisas legais, conversar como uma pessoa normal, que não está enfiada em um ovo acadêmico onde todos sabem tudo sobre tudo e não adianta nada.
Eu tento escapar um pouco dessa solidão daqui.
Eu sinto falta de Floripa, que lá, ao menos, minhas pessoas estavam ao redor, pra qualquer coisa. E aqui todo mundo está perto, mas ninguém se vê, de verdade.
Eu passo meus dias inteiros trancada no quarto lendo e escrevendo. Menos e mais do que deveria. Eu faço meu almoço, passeio a minha cachorra. Vejo muitos filmes. Às vezes eu canto. Normalmente, quando estou feliz - eu cantei muito ontem.
Eu faço uns exercícios estranhos pro meu joelho não doer mais, mas ele continua doendo. Eu ouço muita música, mas queria ouvir mais. Vou a reuniões de teorias da conspiração sobre o ensino no Brasil na Unicamp. Tomo muito café. Fumo um maço de cigarros todo dia.
E entre uma tragada e outra, penso em você - isso é quase o tempo todo. É como um lugar para ir, entre cada segundo de rotina, onde eu me perco e descanso de ser isso aí que você está lendo.
Eu procurei aqui dentro, em mim, o motivo pelo qual você me afastou tão brusco, tão com nojo como o fez hoje. E olhava no retrovisor os meus próprios olhos e meu cabelo e minha postura, pra ver se entendia o que você viu de tão desgraçado, tão errado, tão feio.
(e eu vivo me perguntando o que há de errado comigo...)
Mas me encantei do meu olhar. Me encantei do meu sorriso. Não havia nada errado. Nada. Eu estava uma boba, ainda, apaixonada. Dessas que ficam em casa numa sexta à noite, só pra você não pensar merda...
E aí minha boca amargou. E eu saquei: não era a mim que você estava reprovando, era a você.
E eu lembrei de você me contando que saiu. Eu não sei porque você me contou isso. Eu não precisava saber disso. Mas você precisava que eu soubesse. Porque, pra você, significava algo. Significa algo.
Quando eu te vejo, não existe mais nada na minha frente. É só você. Isso é efeito de paixão, daquelas do mal, alucinógenas, entorpecentes, calmantes e estimulantes ao mesmo tempo.
Eu entendo que sexo seja bom - como você deve ter percebido, eu gosto muito. E que se sentir desejado também é. E, por isso, eu não te cobro que feche os olhos pro resto do mundo. Ninguém aqui acredita em perfeição...
E é engraçado... como você não percebe... que eu só tenho me deitado com você. Há muito tempo. Como tem certeza que eu sempre estou com outro alguém. Quando, mesmo sozinha, eu ainda estou com você. Há muito tempo.
Porque você diz tanto do seu “medo” de gostar mesmo, pra valer, de alguém que pode estar com outro. E eu nem quero estar com outro, que outro só serve pra fingir que não queria estar com você, mas eu queria. Caralho! Era só o que eu queria!
E como em um dia... um gesto... e eu sei que você não estava só comigo hoje. E é isso que eu não consigo aguentar: que na hora de me tocar, tenha outra na sua cabeça. A hora de me tocar tinha que ser eu e só eu. E se tem qualquer coisa a mais, mesmo que seja culpa, já está errado. Se você sentiu culpa já está errado. Isso pra mim é tão óbvio...
(Naquele dia, pela primeira vez, eu senti culpa. E eu tinha me arrependido sim. Antes mesmo de te dizer, eu sabia que estava errado. Eu fui te encontrar sabendo que estava errado, como você foi hoje. Não, não era normal. Não foi normal. Foi errado.)
e... depois de me dizer umas coisas tão lindas (bêbado, bêbado, eu sei. Mas também já disse que acredito. Eu ainda sou old-school, e as palavras são o que me fazem o real. Em geral, ignoro o que sinto, mas hoje não deu)...
A verdade é que eu estava tranquila sem você perto. E se gostasse mesmo, me deixava tranquila. E se gostasse mesmo não diria coisas pra me confundir. Hoje eu vi o que eu significo. E, pra mim, parece muito pouco.
E essa conversa de não saber o que quer já não faz mais sentido há séculos. Você pode ser muito claro quando necessário...
Você é muito claro quando decide me levar pra casa e passar a noite se enroscando no meu corpo...
E eu tentei ignorar o fato de que você deixou de vir me ver quando eu ia ficar tanto tempo longe de você. Mas, na verdade, isso foi o que mais me magoou... muito mais do que você estar com outra, que não significa nada. Mas que aí, nesse tempo curto, na sua culpa, no seu olhar vago, significou tudo...
E dessa vez, eu não vou te enviar esse e-mail. Porque eu não quero mais uma resposta de justificativas, razões, teses e outros afins para você não estar aqui, ao meu lado. Eu já entendi que não caibo na sua idéia de perfeição - sua ausência me diz mais de você do que você mesmo. E eu posso aprender a fazer com que sua presença não signifique mais nada.