quarta-feira, janeiro 28, 2009

Infinita Fidelidade


Como se fosse possível prometer os olhos a outrem, Fabiano pediu sua mão em namoro e jurou, dedos cruzados e beijados, não desejar mais mulher alguma. Janaína sorriu o sorriso dos apaixonados, comemorando por dentro em piruetas que ali havia o pacto de amor: estariam enlaçados.
Dá pra arriscar o desejo do corpo numa divagação lógica, no condicionamento mental em que se promete algo extremamente racional, por vias extremamente animais? E se passa um corpo de cheiro que não dá para agüentar sem o toque? Nos reviramos numa tortura quase cristã de sofrer pelo proibido, de auto-punição, que, dela, virá a recompensa?
Corroer os quereres, até que se tornem dedicação, empenho, desafio, e, enfim, a culpa. Mas, não SUA culpa. A culpa do outro. E daí a cobrança: “dediquei toda a minha vida a você”; “nunca olhei para os lados”; “trabalhei muito para que você tivesse esse tipo de conforto”...
A fidelidade, daquelas acordadas, exigidas, pode se tornar o ato mais egoísta de oferecimento de amor. Pois é troca negociada, esperando-se o retorno que supra as inseguranças com as quais, humanos, não conseguimos lidar.
Ainda bem que há aqueles que assumem a incompletude de ser e alcançam...
Infinita, quando não pronunciada: f-i-d-e-l-i-d-a-d-e.
Apagando-se a palavra, ela brota instantânea daquele que dedica o afeto tão grande ao outro. É que os outros corpos não interessam por enquanto. Não se precisa deles para se mostrar quem é. Não se precisa deles para se saber quem é. Mas, aquele ali... aquele ali é sua escolha. Escolha do seu corpo. Estar ao seu lado é como sentar num arco-íris e observar o mundo entardecer.
Há um vazio de palavras para se determinar os sentimentos. Para se uniformizá-los, definí-los. E a verdade é que não é preciso – por enquanto.
Fabiano saía todos os dias sem olhar para os lados. Ate conhecer Cláudia. Desejou-a como a uma gota d’água no deserto. Lutou contra tudo o que sentia e acreditava. Transfigurou-a, para si, numa mulher-monstro – aquela que ameaçava o que havia construído com Janaína. Finalmente, acomodou-a num cantinho dolorido da alma e manteve seu coração trancafiado na cela de Janaína.
Neste dia, passou por Cláudia na rua e não sentiu nada. Subiu as escadas da casa de Janaína num pulo, ansioso para abraçá-la e comemorar seu triunfo. E encontrou-a na cama com outro cara...
Mari Brasil