Admitindo a derrota, o suor e o campo. Batalhas de palavras, roendo, revirando uma falta. Há muito tempo a saudade encontrou morada noutro canto.
Adentro, dentro, o espaço do ócio amargo, e o contato tímido entre as palavras. Seriam as coisas que estavam ficando mais frias?
Ou apenas o descaso com as mãos, que se demoram a apanhar a caneta e marcar: o luto, a luta, a passividade, o entrecorte e a solidão interna, ainda não bem regulamentada, brilhante do oposto lunar?
Tenho o medo de acordar numa dessas tardes e ter perdido o domínio inconsciente das minhas palavras.
Estaciono, pois, o criar. Fecho os olhos e remôo o medo, não escrevo, não digo.
Eu escondo as horas do relógio e a primeira pessoa retorna ao texto: sou eu, ali, novamente.
Estou inscrita nesse dizer tanto mais do que diz o discurso, dessa ilusão de ser um outro, imaginário, uma rede do que seja, in fact, o que me represento.
Serpenteando a calmaria destes rios, fechando os olhos e sentindo o frio, um fio, cortante entre cada uma das sobrancelhas. Uma seta se abre em feixe e o morno descaso se esvai junto com esse dia.
Era só mais um dia, mais uma noite e as palavras começaram a jorrar, renascidas, agradecidas desta pausa.
O corpo feminino ritimado e sua fita, que ora se faz obstáculo, ora se une à beleza da dança e complementa aquele ser, como se o fosse de fato.
A bailarina pára, presta atenção e pode, afinal, escutar a música que acompanha.
Cuidado em não errar o passo. E, se errado, a desenvoltura dos ajustes, a sensibilidade do ouvido, a fragilidade de um joelho. E, se cair, a timidez... apenas timidez.
Que o orgulho impede o reconhecimento do desequilíbrio, trança as pernas e não permite que nada lhe estenda os braços e lhe coloque, mais uma vez a caminhar.
Agarro uma outra chance. Agarro, com pernas e braços e dentes e fitas coloridas. E sinto a seiva morna escorrer do meu útero, com quem nasce: são outras palavras. São minhas e retorno-as ao universo.
Mari Brasil
Adentro, dentro, o espaço do ócio amargo, e o contato tímido entre as palavras. Seriam as coisas que estavam ficando mais frias?
Ou apenas o descaso com as mãos, que se demoram a apanhar a caneta e marcar: o luto, a luta, a passividade, o entrecorte e a solidão interna, ainda não bem regulamentada, brilhante do oposto lunar?
Tenho o medo de acordar numa dessas tardes e ter perdido o domínio inconsciente das minhas palavras.
Estaciono, pois, o criar. Fecho os olhos e remôo o medo, não escrevo, não digo.
Eu escondo as horas do relógio e a primeira pessoa retorna ao texto: sou eu, ali, novamente.
Estou inscrita nesse dizer tanto mais do que diz o discurso, dessa ilusão de ser um outro, imaginário, uma rede do que seja, in fact, o que me represento.
Serpenteando a calmaria destes rios, fechando os olhos e sentindo o frio, um fio, cortante entre cada uma das sobrancelhas. Uma seta se abre em feixe e o morno descaso se esvai junto com esse dia.
Era só mais um dia, mais uma noite e as palavras começaram a jorrar, renascidas, agradecidas desta pausa.
O corpo feminino ritimado e sua fita, que ora se faz obstáculo, ora se une à beleza da dança e complementa aquele ser, como se o fosse de fato.
A bailarina pára, presta atenção e pode, afinal, escutar a música que acompanha.
Cuidado em não errar o passo. E, se errado, a desenvoltura dos ajustes, a sensibilidade do ouvido, a fragilidade de um joelho. E, se cair, a timidez... apenas timidez.
Que o orgulho impede o reconhecimento do desequilíbrio, trança as pernas e não permite que nada lhe estenda os braços e lhe coloque, mais uma vez a caminhar.
Agarro uma outra chance. Agarro, com pernas e braços e dentes e fitas coloridas. E sinto a seiva morna escorrer do meu útero, com quem nasce: são outras palavras. São minhas e retorno-as ao universo.
Mari Brasil