terça-feira, outubro 02, 2012

segunda-feira do inferno


Tem dias que o dia tira pra te tirar... hoje foi um desses. Começando por ser uma segunda-feira chuvosa e eu com mil coisas a fazer. Acordo e sento no computador. Minhas costas lembrando que eu estou velha e com problema de junta... mesmo tendo acabado de acordar, tudo dói.
Sento ali e leio os e-mails. Vai uma hora até resolver todos, isso os que tem solução. Vou planejando minhas aulas, reescrevendo projeto de pesquisa, “des”orientando alguns orientandos, enfim, essas coisas de sempre. Ao menos não tiveram a deselegância de convocar uma reunião de departamento com essa maldita tempestade.
Às onze eu deveria ir à academia, mas a chuva aperta. Olho o relógio, passam quinze minutos e as aulas não se resolvem: vídeo? Texto? Ahn?
Me chamam no bate-papo do gmail. É o gatinho novo. E ele está muito feliz porque foi surfar às sete da manhã e louco para compartilhar todas as suas emoções. - ele é maluco!
Nem as sua fofuras ajudam nessa irracionalidade de segunda-feira de tempestade. Aliás, ele passa a ser meio detestável neste contexto, ainda mais exalando essa felicidade bizarra...
Ele é tudo o que todo mundo queria para a minha vida, menos eu. E depois vem me dizer que os conecitos não são relativos.
Está decidido: academia só no final da tarde, quando retornar das duas consultas médicas. Continuo minha obra-prima didática, só que ela tá ficando meio desbeiçada.
Minha cachorra acorda a cada meia-hora com seu fôlego de enfisema e vem pedir pra ir lá fora, coisa que ela não pode mais fazer. E eu assisindo a este sofrimento cotidiano, cheia de culpas, que ela está assim porque eu vim pra cá, que ela não tem gente pra ficar com ela e eu também não posso ficar como achei que poderia... eu deveria ter deido ela lá? Eu deveria ter vindo?
E uma merda de e-mail que parece que eu não sei mais escrever, porque ninguém entende o que eu digo, nunca vi... ando tão esquizofrênica que parece até que refletiu em tudo, até na porra de resposta de e-mail.
Fui à fonoterapia e o trânsito tava tão louco que me atrasei. E a mulher me trata como uma criancinha e faz um resumo dos meus exercícios numa orelha gigante de papel pra eu pregar na minha cozinha e lembrar de mastigar do jeito certo. Eu já cansei dela, acho que já deu, mas ela não me dá, não fuckin me dá alta!
Então eu saio de lá com a orelha na agenda e corro pra clínica que o médico me mandou pra fazer o exame. E eu telefonei pra lá antes e me disseram que lá fazia o exame... e, quando eu chego (fui andando, sabe? Porque era até perto), não fazia o exame. Mas eu liguei moça... é, mas te informaram errado. Mas tem um lugar aqui atrás que faz, vai lá. E eu fui. Mas lá não faz digital moça. Digital é só na Bocaiúva. Eu ligo pra Bocaiúva: vocês fazem? Fazemos! E até que horas? Se você chegar até às 18:30h, ainda pode fazer.
Corro pro carro e saio de novo na tempestade e, nessa cidade, tempestade é o inferno no trânsito. Mas eu vou, eu consigo, é hoje! Eu paro no estacionamento que sei que existe e custa seis reais a hora. Deixo o carro e corro pro número indicado. E lá havia estacionamento gratuito...
Enfim, cheguei e são seis e vinte! Mas naquela portaria não pode. Lá é até às 18h. A moça me leva à outra e avisa às moças da recepção. É só pegar a senha, moça. Eu pego e sento. São sete horas e chamam a minha senha. Ai moça, era só até às 18:30h. O radiologista já foi. Mas, como? A moça me trouxe aqui e falou pra vocês! Mas, pois é, não tem nada que eu possa fazer.
E não tem mesmo. E o que eu vou fazer? Bater nela?
Eu saio derrotada e com fome. Vou ao shopping e como um hamburguer enorme de picanha. A academia acaba de deixar de fazer parte da realidade de hoje.
Vou ao supermercado ali mesmo. Ao menos é um supermercado que presta, com coisas bonitas e até baratas. Tem mais fila.
Chego no estacionamento e foram dezoito reais.
Dezoito reais e 3 horas jogadas no lixo. Eu não estava amando nem um ponto daquele caminho. A última vez que me senti feliz foi ao ouvir “nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres”... foi sábado à noite.
Cheguei em casa às 21h. E tão cansada... e a Mel estava mais ofegante do que nunca. Querendo sair, fazendo o maior esforço pra andar e pedir pra eu abrir a porta, botar o focinho na rua... e eu não deixo.
Eu olho pra ela e choro, choro tanto, peço desculpas, tantas desculpas... por ter demorado tanto, deixado sozinha, por ter trazido ela pra cá, nessa casa sem gente, pequena... por não ter tempo pra ela, por não descobrir porque ela tá tão doentinha, por não poder ir dar aquela voltinha no quarteirão, que era tudo que eu conseguia quando chegava podre do trabalho...
Ela fica olhando nos quartos, parece que procurando alguém, mancando da mão direita.
Nem parece que nadou na praia e na lagoa do Peri no fim do ano passado... foi tão rápido, foram uns meses só.
Sento na cama, vejo os e-mails e ninguém me entendeu mesmo. Hoje eu não deveria ter escrito nada para ninguém.
Vou ver os debates dos candidatos à prefeitura daqui. Meu deus, que coisa amadora... E me dizem ali nos e-mails de como há controle e regulação... ah, fala sério. Isso aqui é terra de ninguém.
Hoje eu tou de mal com o mundo.
Tá duro manter os pedaços juntos. Tá duro manter as escolhas.
Eu acabo me assustando com a minha incapacidade. Sinto falta até de morar com meus pais, de tanto que não dá, não tou conseguindo sozinha. Sozinha mesmo, sozinha pra caralho.
E é incrível como ninguém quer saber dos nossos problemas...