Ódio

Eu te odeio.
Com todas a energia que tenho.
Porque você me destruiu e continua me destruindo todos os dias.
Todos os finais de ano em que penso que não tenho paz.
Desde quando você gritava comigo.
E me fazia acreditar que o problema era eu.
Que eu tinha perdido a hora.
Que eu tinha sentado no lugar errado no ônibus.
Que eu não tinha lavado a louça e feito seu almoço.
Que eu tinha te traído.
A culpa não era minha e eu te odeio.
Sinto ânsia de vômito quando me lembro de você tentando deitar sobre mim quando disse que ia me separar.
Sinto asco quando lembro da sua pele.
Tenho nojo da sua voz.
Odeio você e tudo o que você fez comigo.
Tudo o que eu era e em tudo o que eu acreditava e deixei de acreditar.
Que não sei mais amar por sua causa.
Que me tocava quando eu era apenas uma criança.
Que fazia eu acreditar que queria também mas eu nem sabia o que era sexo.
Sinto repulsa da tua barba.
Daquela sala fedida à anestesia.
Raiva de você que me deixou vulnerável.
Que não cuidou de mim quando eu mais precisava.
Que me negligenciou quando não podia me defender.
Eu não perdoo nenhum de vocês.
Não posso porque vocês me mataram aos poucos.
A cada grito.
A cada palavra semi dócil.
A cada sussurro.
Esse ódio vive latente em mim.
E reaparece a cada dia em que busco sentido pra isso tudo.
A cada noite de sono mal dormida que só é dormida porque me entupo de remédio.
Você me matou.
E eu já não me sinto viva.
Não sinto que posso amar e ser amada.
Porque eu já encontrei o amor, me disseram.
Me sacudiram e me enlouqueceram e eu os enlouqueci.
Porque não pude dar a eles meu amor.
O ódio que você enfiou em mim não sumiu nunca mais.
Fica por aí buscando sentido em algum livro, em algum copo.
Eu te odeio e não quero te perdoar.
Porque o que você me fez não tem perdão.
Não se toca em um corpo que não tem desejo.
Não se ofende uma mãe que amamenta seu bebê.
Não se larga uma criança com um estranho.
E não quero ser melhor que você.
Não quero te ter como parâmetro para nada.
Nada.
Quero te esquecer. Te tirar do meu corpo. Da minha vista. Da minha companhia. Da minha história.
Quero te odiar em paz.