quinta-feira, outubro 30, 2008

Puta


Conversamos demoradamente, como se meia-hora fosse acabar no dia seguinte – ela cobrava por hora, cem paus.
Quando aquele cara se sentou ali na mesa, ela se prontificou a sussurrar no meu ouvido que, se resolvesse, eram 180 pra duas gozadas. Achei engraçado. Mas não. Eu não encaro.
Nunca imaginei que a velhice carecesse de sexo. Eles me sorriam e me ofereciam drinks, só para que fosse me sentar a seus lados.
Era como se, de repente, meu corpo fosse mais sagrado do que pensava. E sorrisos e brindes me ofendessem um pouco.
Ao mesmo tempo, lembrei da trepada da semana passada. Um cara nada atraente, nervoso, só desaguar aqui dentro, vestir as calças e ir embora – se ao menos pagasse...
Por que esses caras vão a um lugar em que têm que pagar? Tão mais fácil (e econômico) ir num bar qualquer, conhecer uma mulher qualquer...
Não é como se eles fossem ligar no dia seguinte mesmo.
Ela me disse que eles ligam. Mandam flores.
- Mandam flores?
- Você fala inglês?
- Falo.
- Menina! Você pode receber em dólar!
Tinha um cara que me conhecia. Fiquei pensando se, agora, ia dizer a outras pessoas que estava lá, fazia programas, será?
Por que a preocupação? Valeria menos por isso?
A garota se arrumou com um cara.
Ele era muito bonito. Mas muito mesmo. Alto, forte.
Eu não cobraria nada dele! Aliás, se bobear, acabaria pagando até o motel...
- O bar fica com alguma porcentagem?
- Não gata, é lucro líquido.
- E você não tem medo?
- Do quê?
- Sei lá! De pegar algum psicopata.
- Olha, isso nunca aconteceu. Os caras que vêm aqui são conhecidos. É só perguntar pro garçom se eles conhecem, pagam direitinho. É tranqüilo.
E eu pensava como poderia ser tranqüilo. Sair dali com um desconhecido. Para transar.
Lembrei que fazia isso todo fim de semana...

- E não é estranho?
- Olha, depois que eu fiz a primeira vez, vi que não tem nada de mais. Ficou normal.
- E você gosta?
- Às vezes sim. Às vezes é muito bom. E aí você pensa que gostaria de não ser puta ali, com aquele cara.
Os lindos olhos amendoados brilharam horrores – já deveria ter se apaixonado, noite dessas.
Era uma boneca. Quem não gostaria de tê-la sentada em sua cama?
Ouvi um cara ali do lado comentar com outro que puta não valia nada. Me senti ofendida, sei lá porquê.
- Não me entenda mal. Faz um ano só que eu tou nessa. É só até me estabilizar. Você veio aqui pra começar, não é?
- Na verdade não. Achei que fosse um bar... hum... "normal". Aliás, só percebi quando o garçom me deu um toque. Mas estou achando muito interessante...
- Gata, pega esse cara aí então! Tá tão bêbado que não vai dar trabalho nenhum! Eu garanto!
- Eu não consigo... desculpe.
- Vou te falar uma coisa: os melhores são os velhos. Pagam direitinho, são educados e não dão trabalho. Aliás, às vezes só querem conversar...
Eram 3 da manhã. Peguei o telefone dela.
Paguei minha comanda e voltei pra casa. Deitei no sofá, liguei a TV. Não pude deixar de pensar que... se...
e dormi. Antes que pudesse completar o que pensava.

terça-feira, outubro 28, 2008

Síndrome de Branca de Neve e Complexo Napoleônico. Ou, os Sete Anões e o Chucky.



Alguém já reparou que todo baixinho pira quando pega/quer pegar a gente, mais alta?

(Vejam bem, não estou estabilizando uma estatura: baixinhos são relativos! Eu sou bem baixinha, na verdade. Definindo aqui, para que não me chamem de pós-moderna: baixinhos – caras menores (em altura) do que a gente. Beleza? Resolvido? Então tá.)

O fato é que, toda vez que me aparece um chaveirinho, não importa o quanto eu trate mal, o quanto eu mande embora, o singelo pintor de rodapés gama. Mas, gama mesmo! Se apaixona perdidamente, quer casar e ter filhinhos. Na melhor das hipóteses, quer trepar até o pau cair...
Mas o problema é que eu não curto caras mais baixos que eu. Todo mundo tem suas manias, preferências, preconceitos criados pela nossa sociedade elitista, blá blá blá, whatever! A minha é: cara menor que eu é possível. É comestível até. Mas não apaixonável. Sei lá, simplesmente não rola... não me sinto atraída.
Acontece que, se de um lado eles estão fadados, para mim, a serem os sete anões, eu estou fadada, para eles, a ser a Branca de Neve. Porque não interessa o que eu diga, faça, ou xingue, essas desgraças vivem aparecendo na minha vida... e elas me adoram!
O interessante é que a pequena estatura desperta nos anõezinhos um conjunto de sintomas aos quais os especialistas atribuem o nome de “Complexo Napoleônico”. Parece que, para compensar a falta de altura, estes pequenos e curiosos seres pirilâmpicos projetam, nas minas mais altas, toda uma possibilidade de poder de conquista, pelo qual lutam, muitas vezes, até a morte.
Ou seja: os baixinhos vêem uma mina mais alta e surtam! Querem porque querem, de qualquer jeito! É como escalar o monte Everest! O desafio supremo na vida...
Vocês já devem ter visto por aí um anãozinho todo sorridente, de mãos dadas às de uma mina grandona. Gente! Pra eles é a conquista divina! Eles desfilam, orgulhosos. Quanto maior o salto, melhor...
E a gente até pensa que isso é preconceito, que nem todo baixinho é assim e... voilà! Dá mais uma chance pra um gnominho! E o que tem em troca? Mais um gremlin no cio, tentando agarrar nas suas pernas e se satisfazer ali mesmo (porque, geralmente, eles não alcançam o resto).
É um desespero que eu não consigo entender. Parece que o mundo vai acabar amanhã, com toda certeza! E eles precisam ser “felizes para sempre”, urgentemente e... comigo! Já me deparei com quase todos os sete anões:
Teve o Zangado, aquele que não se conformava com o fato de eu não querer nada mais além daquela noite (e que eu só peguei porque era o único cara disponível no local). Ele ficou me ligando e resmungando, brigando, reclamando, enfim, um cara muito bravo mesmo, que vivia intensamente o seu complexo, achando que iria, mais cedo ou mais tarde, me ganhar na briga. Fala sério...
Teve o Dunga, aquele que era meigo, mas, como um bom Dunga, não fedia nem cheirava e, especialmente, não trepava direito. É desses mais bobos que a gente se aproveita pra fazer um ciuminho no cara que tá a fim... auto-estima no pé, oferecido, do tipo “por favor, me ameeeeeeeeeeeeeee”! Esses a gente não dispensa, senão eles choram. A gente vai dando cano, pede desculpas e, enfim, nunca mais, graças aos deuses dos contos de fada, encontra a desgraça! Mas, de vez em quando ele ainda liga!
Teve o Feliz. Meu deus! Esse cara deu trabalho! Era o típico “pincher” tentando montar numa “dobermann” no cio (observe-se que quem parecia no cio era o cara). Aconteceu que, depois de muita bebedeira, ele até lembrava um basset... aí olhei aquela cara de cachorro vira-latas, desencanei e levei pra casa. Cara! Uma noite inteira sem dormir, balançando o rabinho! Como é que o cara tem esse pique? Não é possível ter tanta energia naquele corpinho tão pequeno! Eu tinha que mandá-lo sair de cima, porque tava tentando me comer até enquanto eu dormia... depois, como nos víamos sempre, era aquela cara de cachorro babão diante de vitrine de açougue! Hiperativo até umas horas, toda vez que um cara chegava perto de mim, ele rosnava. Mesmo que eu explicasse a ele que não rolava mais. Enfim, ele encontrou uma Lassie e se deu bem. Aí parou de me assediar e nos tornamos bons amigos!
Mas nem tudo são horrores... teve também o Dengoso, que era um fofo. Todo inteligente, todo gatinho, apesar de... pequenino! Conversa deliciosa, pegada de gente grande, enfim, tudo para ser perfeito. Exceto o tamanho! Era um tímido meio safado e... não fosse o fato de eu estar de férias surtando, até consideraria a possibilidade de me arriscar Branca de Neve, só pra ver no que ia dar.
E eu não posso esquecer, de forma alguma, o Mestre! Que esse era mestre mesmo: me deu três nós e virou do avesso quase! Afff! Que cara bom de cama! O problema é que ele queria, como um bom baixinho, fincar sua bandeira no meu topo! Passar o meu monte pro nome dele! Não bastava só me escalar, queria era casar! Cruz credo, que medo! Gamou mesmo, muito, fez declarações de amor. Até aí tudo bem... mas começou a aparecer sem que eu convidasse, aliás, sem que eu desse sinal de vida, ou mesmo quando eu dizia claramente que não queria! E daí... fodeu tudo... mostrou o ladinho “zangado” e já era. Acabou o encanto da maçã envenenada que era aquela boca...
Teve o Soneca! Esse, na verdade, não gamou. Não encarou, encaretou. Ao contrário da maioria dos anõezinhos, dormiu no ponto e... já era! Devo destacar que esse não era menor que eu de verdade... era do mesmo tamanho! Só ficava menor quando eu tava de salto. Deve ser por isso que não pirou o cabeçote... heheheheh.
E o Atchim... bom, esse tá por vir ainda. Que eu sei que essa síndrome de Branca de Neve não passa fácil assim...
Enfim, dentre todos esses pequeninos cutchi-cutchis, sempre há um com o qual devemos nos preocupar: eu o apelidei de “brinquedo assassino”. Ou Chucky, para os mais íntimos (se é que exista alguém no mundo que queira ficar íntimo desse inferno na terra). O Chucky parece até engraçadinho à primeira vista, né? Você até acha que pode confiar e virar as costas praquela figurinha. Mas... espere contrariar sua vontade... espere não fazer exatamente tudo o que ele quer. Espere, exatamente, não lhre dizer nenhum "sim". Aí... aí o bicho pega! O cara vai fazer de tudo pra te foder. Vai te enfiar uma tesoura nas costas! (é claro que pra isso ele precisaria de uma escada pra alcançar, mas... vai que ele consegue!). Por isso meninas... cuidado com certos anõezinhos... afinal, Napoleão quase conquistou o mundo! E não foi com seus encantos...

segunda-feira, outubro 27, 2008

Na manicure

Estava eu na manicure aguardando minha vez quando começo a folhear uma revistinha de vendas de produtos de beleza, pra passar o tempo.Aí, a revistinha oferecia um livro que se entitulava " 10 segredos para manter acesa a chama no seu casamento". Desconheço coisa mais brega e ineficaz que tentar manter a chama no casamento...Então minha cabeça rodou e fiquei a pensar que tipo de mulher compraria um livro com esse nome...e pensei: talvez o mesmo tipo de mulher que folheia revistinhas de vendas de produtos de beleza na manicure.
Joguei o catálogo longe, como quem tinha uma barata morta nas mãos.Fiz cara de nojo e novamente comecei a elocubrar sobre como seriam esse tais "10 segredos"
-tacar fogo no colchão e os dois rolarem nas chamas talvez...
-gastar um vidro de pimenta malegueta nas genitálias e sairem pulando, isso inclusive ajudaria nas preliminares...
-acender a churrasqueira e se assarem no lugar da picanha e da linguiça,
-ligar dois maçaricos e brincarem de guerrinha
-transar em cima do fogão com as seis chamas ligadas
-mergulharem juntos na banheira com água aquecida a 100º C
-sair correndo um atrás do outro com o ferro de passar ligado
-fazer amor em cima do motor do carro ligado
-trepar encostados numa cerca de alta tensão

Se nada disso der certo, tem duas soluções: aprender que tesão tem prazo de validade e o resto é forçação de barras... ou...comprar uns livrinhos inteligentes que as manicures andam vendendo por aí...

quarta-feira, outubro 15, 2008

Um Feliz Desaniversário!



Hoje, comece tudo ao contrário,
Pra todo efeito, comece não celebrando,
comece chorando!
Saia andando pela rua à toa, chute o cachorro, reclame do trânsito, feche a cara.

É essa cara sisuda mesmo que se expõe,
Abre o rosto de desdém,
Abre o gosto de xingar,
choramingar, injuriar, reclamar!
Vai!

É que é símbolo: não é de comemorar!
É de guardar hoje cada mágoa numa caixinha.
Engolir os sapos de vez! Mas, mastigando desta vez!
Sentindo o gostinho amargo espalhando nas gengivas...

Hoje não é esquecer... mas deixar de lado...
(Deixa! Desprende! Solta! Vai!)
É enterrar os ratos, e não seguir alimentando-os.
Hoje é dia de morte, não de acrescentar mais um ano!
É de jogar pra cima os planos!

Hoje guarda despeito,
pega essa dor e transforma,
que o que cria disso é câncer, travestido de desilusão.
Quebra todas elas! Que ilusão se constrói de novo - é reciclável...
É de plástico... você sabe...

Hoje abre o peito para o medo, sente cada gota,
Deixa que essa merda te invada toda, aproveite! Porque...
hoje é o dia, em que tudo acaba.
Você está é cansada... bem se vê.

Então pára. Olha ao redor, olha o espelho.
Olha, que essa sua imagem te diz de mil formas.
E você anda escolhendo só uma!
Que desperdício de alma! Desperdício de tempo que,
se bem lembro, não temos muito!

Então pára. Porque como eu já disse,
hoje é dia de morte, não de acrescentar mais tempo!
Chega de adicionar as dores! Ver o bolo crescer e ficar remoendo, re-peneirando o trigo!
Ta na hora de começar de novo, do zero.
É hoje que você se encerra.
Fecha.
Chega.
Deu.

A partir de amanhã, celebrará, todos os dias, o seu desaniversário.

Todos os dias, deixar de lado...
Não engolir mais nada seco!
Sair à rua para sambar,
Sair para amar, porra!
Sair pra chorar também, mas de peito aberto...

De peito aberto,
é reconhecer, nos ponteiros do relógio,
aquele minuto que fez o dia valer a pena...
Aquele minuto está lá, esteve lá o tempo todo!
Ele é feito de se olhar no espelho e enxergar todas as outras...

Então, escolha libertá-las,
Escolha libertar-se,
Que no medo desta escolha reside o que de mais belo há:
Você mesma.


Para a minha amiga Medusa,
porque essa vagaba anda precisando...
"estar diferente"
Mari Brasil

segunda-feira, outubro 13, 2008

Asas


Ouçam outra língua
Que cansa de desconfiar dos tímidos risos.

Os dentes que se estralam
no encontro da mordida
são supridos
de mini-almofadinhas de sabor
provenientes das cozinhanças da vida,

dos estranhismos que se cruzam
entre alecrim e manjericão.

Portanto, não correm, não ficam, não morrem.

No intervalo do céu com a terra
pousam e revoam
as irregularidades de se fazer tremer:

bicicletas aladas que perfazem os caminhos duros, sem que se faça necessário tocar o chão...

me beijam agora e, neste segundo, são a minha caixa de morangos...





Mari Brasil