Dizem por aí que você se casa no dia da mentira. Eu não poderia esperar nenhum outro, tamanha a incoerência de “você se casar” numa mesma frase. Desde que soube, você aparece em meus sonhos e conversa comigo, dizendo que tudo está bem. Que aquilo que amamos está preservado, que não se altera pelas escolhas da vida, que andamos inconscientemente juntos, que nos lembramos às vezes, que já faz muito tempo e que é bonito quando lembramos. A ideia da ideia, você diz, nos conforta e nos acolhe. E, por ser ideia, é perfeita e faz tanta falta, parece que seria tão bom, exatamente porque não foi. Hoje acordei depois de mais uma longa conversa sonhada. Estava calma e triste. Não acredito que você não sonhe nada, não sinta nada, não lembre nada. E não pense “e se...”. E que seu olhar não me procure por aí, quando caminha desavisado. E não tenha essa dúvida cravada na memória... Ou... talvez apenas eu goste dessa sensação de se perder, de não se achar mais em relação àquele que frequenta os meus sonhos. Talvez eu diga que você tenha medo, porque tenho medo do possível... e me apego ao improvável para negar... Que de possível eu estou meio cansada... que o impossível me alimenta e me faz caminhar. E eu sonho.
Mari Brasil
2 comentários:
Esse texto parece ter uma parte de mim. Aquele adeus latente que não te permite cogitar que a vida é ao mesmo tempo a mesma mas que também mudou. Bom ler coisas suas que fazem sentido com os meus sentidos.
"Fill my dreams with flakes of snow
Soon I'll feel the chilling glow..."
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