A leveza da alma só foi atingida no dia em que se permitiu
sorrir sem culpa. Já há algum tempo disseram-lhe que seus dentes não deveriam
ser mostrados com tamanho despudor em suas fotos. Ouviu anos mais tarde que sua
postura deveria ser diferente: saias menos curtas, cabelos mais longos e
ausência de palavrões. Gestos espalhafatosos, então? Absurdo! Não combinavam
com seu lugar de mulher e futura esposa. Quando decidiu ser professora, seguir
a vida acadêmica exigiram-lhe seriedade. Que tipo de aluno respeitaria
professora que abraça, fala da vida pessoal e se preocupa com o que acontece
fora da universidade? Teria que ser distante, fria, ausente. Não se contentou
com isso, embora tenha tentado. Optou por manter sorrisos e mãos firmes. No
trabalho e na maternidade. Dedicou-se a cada dia à filha. E aos amigos. Ah,
seus amigos. Sem eles, sem elas, ela nunca foi nada. Na época da escola
aprendeu que poderia cultiva-los e tê-los consigo para o resto da vida, onde
quer que morasse. E eles, elas, viraram seu porto seguro. Viagens, reveillóns,
rodas de cerveja. Poucos enterros, mas vários velórios. Juntos/as viram amores
virarem decepções, dores, amargores. E juntos/as reergueram-se. Sem eles, elas,
não seria a mãe que é. Aprendeu com cada mulher a ser afetuosa, cuidadosa,
presente. Tem dias em que ela se acha foda, bonita, inteligente. Em outros nem
tem vontade de sair da cama. Aí se lembra dos sonhos, dos ideais e se levanta.
Não cabe mais em rótulos e, por isso, aboliu de sua vida aquilo ou quem nada
acrescenta. Ainda leva algumas culpas, não se perdoa por algumas falhas. Mas dá
de ombros. O tempo apertado diz a ela para se adiantar, correr para a vida. Só
que ela aprendeu a valorizar o tempo fazendo nada (como está agora) ou achando
que está fazendo algo importante. Não sabe se faz a diferença porque sempre
quer fazer mais e mais pelo o outro. Talvez não dê valor ao tanto que realizou
porque insiste em olhar para a frente. Para quem já quis que a vida cessasse,
hoje demonstra imenso apego às batidas de seu coração. E ele pulsa forte. Ah
como pulsa.
quinta-feira, agosto 16, 2018
quarta-feira, agosto 15, 2018
Só 4 coisas
A minha escrita anda perdendo lugar pro meu namoro…
Hoje, por exemplo, enquanto ele não chega, tenho 5 minutos
para dizer 4 coisas:
1.
Parece que existe uma idade máxima para
se beber muito num bar;
2.
Depois dessa idade parece que temos que
assistir novela e só.
3.
Essa idade só aplica a mulheres e
viados (e varia entre os dois grupos).
4.
Acho que vou começar a fazer judô.
Na verdade, tem mais umas coisinhas:
Ando com vergonha de ser gente, quando essas criaturas que
vem propor um teto para o meu porre se intitulam gente como eu.
Estou com muito medo de quando eu estiver no bar, todas as outras
criaturas sentadas que se dizem gente, não fizerem nada, quando 6 broncos nos
agridem, com palavras - quase paus.
Estou com medo de não dizer nada. Estou com medo de dizer
errado. Estou com medo de dizer certo e apanhar. Estou com medo de ninguém
ouvir.
Estou, acima de tudo, solidária e preocupada de estar tão
longe de todxs que precisam ser acolhidxs nesses 5 minutos em que parei… para
dizer essas 4 coisas.
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