segunda-feira, abril 30, 2007

Indefinido


Eu vou levar seu maço.
Esse pedaço que você deixou em mim.
Mas não dependa.
Me surpreenda, vá até o fim.
Não me trague.
Apenas apague, me ponha de lado.
(Desdenhe) faça pouco:
seja louco, desvairado.
Não sou seu vício,
seu artifício para ser feliz.
Eu vôo alto
mas, de um salto, crio raiz.
Mas não me prenda:
me surpreenda, me renegue.
Me ponha no colo,
Mas, não seja tolo e não se apegue.
Me ame,
Me derrame, me injete.
E se abstenha,
se contenha e me projete.
Me evoca!
Não me sufoca, com olhares obscuros.
Fica afastado,
Meio de lado, que eu te procuro
Eu vôo alto,
e, de um salto, vou embora
Não me afasta.
Me devasta. Me enamora.

sábado, abril 21, 2007

Toque


É como uma nova linguagem:
primeiro o toque, depois a fala.
Primeiro me derruba. Depois me arrebata.
Me enche de prazer e me mata
Prende e sufoca
E senta ao meu lado
Embaixo do céu estrelado
Enche o copo com cerveja
E meu corpo com palavras
Intimida com olhares supérfluos
E depois canta ao meu ouvido, sem nenhum acorde
Me derruba de novo e me morde
Se recolhe, me encolhe
E eu viro um ponto no meio de tanta destreza
(com rimas, com letras)
Um ponto de exclamação! Surpresa:
que fala... e que toque...
Me toque!
Aparece de novo e me beija...

segunda-feira, abril 09, 2007

as horas

E hoje, pela primeira vez, eu vi uma coisa... uma coisa que eu sempre tive medo, que eu sempre fingi não poder existir, que eu sempre achei besta, etc, etc, etc.
Eu sempre achei que idealizava demais tudo. E que só amava as coisas dessa forma. Eu não conseguia nem imaginar as coisas no sossego de uma rotina.
Eu odeio rotinas.
As rotinas vão me sufocando. E as novidades, as raridades me trazem novo ar.
E, nessa noite...
Quando ele fez a curva para entrar na rua da minha ex-casa, um sentimento bem diferente veio me incomodar.
Eu pensei, naqueles segundos, em como seria essa cena repetida por todos os domingos. Ou por alguns domingos à noite.
E eu imaginei isso sorrindo, bem boba mesmo, sentindo coisas boas demais.
Sentindo um conforto incontrolável, daqueles que as rotinas me privam sempre, mas não hoje.
Pensei em como seria se ele me deixasse em casa... e se eu tivesse que acordar cedo amanhã, pra dar aula.
Pensei se eu o deixaria me deixar em casa, ou se o seqüestraria para dividir um acordar comigo, tomar café da manhã ouvindo música e sair para dar aula...
Pensei mesmo em repetir essa cena muitas vezes, essa curva da minha ex-casa. Pensei no sorriso dele, muitas vezes por semana. Nos olhos dele sorrindo muitas vezes por semana.
Pensei em descobrir se existem tantas imperfeições nele quanto eu imagino. E tantas perfeições também. Pensei que seria interessante descobrí-las!
Pensei coisas que eu nunca achei possíveis de me deixarem feliz. Pensei coisas que eu acreditava sempre estragar tudo: pensei em conviver, um pouco mais...
E foi tão gostoso pensar tudo isso naqueles segundos. Foi toda uma história diferente que se embrenhou na minha cabeça.
Talvez, por ser apenas uma idéia, tenha sido uma das mais deliciosas de se sonhar acordada. E, na hora em que ele parou o carro, eu não consegui me conter. Fiquei bem emocionada, enroscada naquele peito, imaginando poder sentir aquele cheiro muito mais do que tenho sentido. Apertar aquelas mãos muito mais do que tenho apertado. Beijar aquele rosto, muito mais do que eu tenho beijado.
E eu nunca pensava isso. E agora pareceu tão plausível...

sábado, abril 07, 2007

Rascunho

Se você continuar me descrevendo assim...
Vai me contando, me dissertando,
me publicando
Me teoriza pelos meus traços mais marcantes.
Nos seus traços.
Coloca um lápis na mão e me rabisca.
Meu corpo vem se tornando um caderno,
se reconhecendo iletrado.
suas frases para preenchê-lo, suas mãos para folheá-lo.
tateando no escuro do quarto,
você vai me lendo,
ou me escrevendo na hora?
uma outra história,
nova, cheia de metáforas perigosas
e pontuação imprecisa.
Se você continuar me descrevendo assim...
eu viro uma palavra.

O que eu quero...

Você quer saber o que eu quero contigo?
Eu digo...
Eu quero que você me veja quando eu saio, à noite.
Linda,
vestida para...
esperando que...
você jogue tudo para o alto alguma hora,
enlouqueça, saia à minha caça e me encontre.
Que me pegue pelo braço, me desafie...
me tome de assalto e me leve pra casa.
Não se importe com todas as outras pessoas...
Que não pense, não reflita, não ache nada errado.
E que não precise se esforçar pra isso... porque eu valho a pena.
Quero você sem consciência, leve,
Me desejando consigo sem lembrar de mais nada.
quero que você me assuma no seu abraço!
E me deite no seu colo.
Quero que, quando você me vir na rua,
não seja meu amigo. Nunca.
Me beije na boca!
puxando meus cabelos...
Sem pudores, sem rodeios,
displiscente e apaixonado,
Com força,
como se fosse a última vez, o último beijo.
Quero um sinal,
um afago.
quero te mostrar. quero me mostrar.
Quero gritar minha paixão...
parar de escondê-la, porque ela é mais bonita ainda que você!
Quero não ter hora marcada pra te encontrar,
porque meu tempo é diferente do resto do mundo e é diferente do teu.
quero não ter hora pra acabar,
sabendo que tem.
e te apertando cada vez mais forte,
exatamente por isso.
Eu queria mesmo, era esse tempo, só com você...