É um conto dinamarquês sobre uma sereia que decide se tornar humana
para ficar com o cara por quem está apaixonada. Pra isso ela procura uma
feiticeira no mar, que a transforma em humana em troca da sua… voz! Na versão “não
Disney”, ela não consegue se declarar para o cara. Ele fica com outra. E ela se
joga no oceano, se transformando em espuma do mar…
Romântico, né?
E eu.. me joguei no mar e vim pra Dinamarca num súbito momento de
completa insanidade mental, atrás de um cara que parecia uma ótima ideia… há 5
meses atrás.
De repente eu acordo, uma semana depois, em Copenhagen, de ressaca.
Ele está ao meu lado, olhando pra minha cara e diz sorrindo: “bom dia docinho”.
Oi? Bom dia?
E eu olho ao redor e percebo: alguns dias sem conseguir tocá-lo,
alguns dias acordando com vontade de matá-lo, alguns dias quase brigando pela
forma como ele corta o pão, ou como fica supervisionando tudo que eu vou fazer,
tentando ajudar… e pareciam 30 anos.
E foi assim, que uma semana após chegar na Dinamarca eu percebi:
estava casada! Minha pequena sereia deu certo e eu não sabia o que fazer.
Acho que por isso os contos de fada só vão até a hora que o casal
fica junto. Porquê depois… depois de meses, de anos, de dragões, de sonos
eternos, de maçãs envenenadas, depois…
estamos sentados na mesa do café da manhã, depois de ele cortar o
meu pão daquele jeito (de novo!). Fiquei uma semana, ali, como ela, sem voz. De
repente deu. E eu digo: tá, sou só eu que acho que tudo, tudo, tudo deu
terrivelmente errado?
Ele me olha pela alça da xícara de café e diz “não. Não é só você”.
(não bastasse o fato de eu não conseguir extirpar da minha mente
minhas duas últimas semanas antes de vir… com alguém que me fez sentir tão bem…
só faltava ele achar que tudo estava ótimo!)
E aí sim eu respirei aliviada. Mas se não fosse isso, esse romper o
silêncio e quase gritar, muito baixinho… eu ia morrer. Seu eu tivesse que
fingir, se tivesse que ficar, se tivesse tantas coisas que cheguei a pensar…
Ao menos, ele também sente que a gente foi levemente "sem
noção" - achando que tudo se resumiria a comprar uma passagem e viver
"felizes para sempre". A gente absolutamente não pensou em milhões de
coisas... como, por exemplo, que passaram 5 meses e que os sentimentos mudam.
(e por quê não nos últimos segundos: duas semanas e meia e eu
largaria tudo, até a minha voz, por esse outro que eu não sei nem se está me
esperando no Brasil. E isso também me faz pensar em quanto tempo será que esse
outro sentimento vai durar, tendo em vista a rapidez como eu quero virar conto
de fadas ultimamente)
e a gente estava nessa de brincar de terra da fantasia, de pensar
que daqui a dois anos ele iria morar no Brasil para ficarmos juntos… what? É.
Começou até a fazer aulas de português.
Comprar passagens para a Dinamarca parecia tão plausível quanto
achar que se está apaixonada depois de ficar junto com alguém por 20 dias. Cada
um na sua casa.
(mas é exatamente por causa de 20 dias que eu preciso ir embora,
agora, encontrar o outro – mais uma decisão cretina? Agora parece tão mais
real).
Estes cinco meses foram uma espera divertida e romântica de um
príncipe encantado dinamarquês (seria o Hamlet? Meo deos!) e de superar
obstáculos para se viver o amor… ahh… o amor….
O amor acabou, tão rápido quanto começou. E no que eu me meto quando
fico assim? Vim até o frio do vento russo que corta esse país no meio, menos 5
graus, oi, sim, menos 5!!!!
Sem grana, sem “o” amor, sem sol, sem amigos. Mas não. O que eu
ganhei aqui dessa conversa foram muitas risadas e uma certa consciência mútua
de como fomos impulsivos e irresponsáveis e românticos. Ganhei um amigo (ao
menos até o momento), que está rindo comigo das nossas bobagens.
E amanhã vamos procurar um hotel pra eu passar os últimos dias.
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