segunda-feira, dezembro 10, 2018

Tempestade

Tempestade boa vem com vento
Chega sem previsão, sem permissão
Invade com um cheiro de terra molhada
E antes que se perceba
Deixa a alma encharcada
Escurece o céu
Interrompe planos
Não deixa uma só folha no chão
Gota de pingo grosso
Rola no rosto
Não. Não é lágrima, moço
Foi apenas uma farpa
Que afiada como ponta de faca
Causou certo alvoroço
E me pegou, assim, de supetão
Jogou tudo para o alto
Até o mais duro asfalto
Que jurava ser o mais sólido
Sucumbiu à ventania
Ele havia jurado para si mesmo
Não se permitiria tamanha ousadia
De se deixar bagunçar, se soltar
Ser conduzido sem que a própria tempestade
Aleatória, maleável, disforme
Sequer desconfiasse
Onde pretendia chegar
Ela que parecia cinza
Com relâmpagos sinuosos e brilhantes
Transformou, revirou, bagunçou
Pois livre que é
Não se pode aprisionar
A tempestade passou
E o que dela ficou
Foi a força que há de se usar
Quando não mais estiver presente
Com o corpo já todo dormente
Deixar jogar-se outra vez ao mar

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