Pra variar, eu estava num bar. De rock. Ou seja, de cabeludos.
Eu geralmente gosto de caras da banda. O que sempre é uma merda, porque, cabeludo já se acha a última bolacha do pacote por natureza (eu chamo isso, carinhosamente, de síndrome de Sansão. Todo cabeludo tem. Pode ser o filho do capeta que se acha assim mesmo), mas se acham mais ainda se tocam em banda.
E, nesse dia não foi diferente. A vítima era o baterista...
Era lindinho demais... todo fortão, como um bom baterista deve ser. Alto. Com lindos cabelos lisinhos, escorridos, um pouco abaixo dos ombros. Mas, o complemento fatal... o que me deixou louca mesmo... era que, em cima de todo aquele estilinho badboy-metaleiro-cabeludo-baterista havia uns... óclinhos!
E aqueles óclinhos redondinhos, com aro fininho de metal prateado, quebravam tudo! E deixavam ele um revoltadinho meigo. Caralho. Era o homem da minha vida daquele fim de semana. Total.
E eu passei o show inteiro olhando pro meu “futuro marido”, sonhando em passear com ele na galeria do rock, em lojas de cds e de acessórios pra baterias, enfim, sonhando acordada minha vida enquanto esposa de baterista de banda daquele fim de night.
Entre uma virada e outra dele, um suspiro e outro meu, puxei papo com uma mina que estava do meu lado: “cara, esse baterista é lindo demais. Meu deus. Preciso conhecê-lo. Ele é tudo de bom”.
E ela deu uma risadinha e disse que o conhecia há muito tempo. Que eram amigos há anos. E que ele era bem legal. E que ela ia me apresentá-lo.
Eu vibrei! Pronto. Tava tudo certo agora.
E eu resolvi comentar tudo que tinha gostado nele, especialmente os óclinhos. E ela ria que se matava e eu não estava entendendo bem o porquê... então ela disse:
“olha, me desculpe, mas vou ter que estragar teus sonhos agora, ou o choque vai ser grande demais. Tipo, como você deve ter percebido, essa é uma banda cover. E eles se esforçam bastante pra imitar tudo dos caras, inclusive as performances e roupas e tipos físicos... bem... o seu cabeludo... não usa óculos de verdade. Ele só coloca no show, porque o baterista da banda de verdade usa óculos também”.
Bom, eu podia viver com isso. E ele também podia viver de óculos falsos! Eu não ligava! Mas aí... ela me disse que isso não era tudo...
“então... e, além disso... ele não é cabeludo”.Mas! Peraí! Como assim “não é cabeludo”? Eu tou vendo que é porra! Tá ali, o cabelo! Vai ser o que? Peruca?
A minha ficha, de repente, caiu. Meu deus.
Era uma peruca!!!!!!! Nãaaaaaaaaaaaaaaaooooooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!
Meus sonhos em pedaços, por uma palavra maldita: PERUCA! PERUCA! PERUCAAAA!!
E aquela palavra ecoava no meu cérebro. E meu mundo rodava. (na verdade, acho que essa parte era a cerveja, mas beleza.)
E eu fiquei lá, inconformada, assistindo ao fim do show e tentando reconstruir a imagem do cabeludo na minha cabeça: sem cabelo e sem óclinhos. E era impossível. E eu fui ficando extremamente curiosa... perigosamente curiosa.
E o show acabou. E o baterista ia de um lado para o outro. De óculos e PERUCA (palavra malditaaa!!! Ahhhhhh!!! Que horrível!). E não tirava de jeito nenhum.
E, lá pelas tantas, a banda sumiu do palco por um local estratégico que não dá pra gente ver. E eu continuei conversando com a menina.
De repente, vem vindo na nossa direção um cara. Alto, forte. Gatinho. Lindos olhos cor-de-mel. Um sorrisão enorme. E começa a conversar com ela.
Meu deus! Era ele!
Caralho, totalmente irreconhecível! Sem cabelo e sem óclinhos!
E eu já tinha prometido uma carona pra menina e pra irmã dela. E ela pediu pra eu levá-lo também, já que a casa dele ficava no meu caminho.
Eu juro que não achei ruim...
Deixei as meninas. Fui levá-lo. E a gente conversou um pouco no caminho. E ele era bem legal. Quando chegamos, ele veio me dar um... beijo de tchau.
E não tinha rolado nenhum clima até então. Mas o cara me tascou um beijaço na boca! E eu devo ser muito bobinha mesmo, porque nunca me ligo nessas coisas e sempre levo um susto. Geralmente, são sustos bons...
Esse foi ótimo demais. A gente ficou se beijando umas horas... e conversou um monte. Tanto, que eu nem percebi que já era de dia. E que a gente tava estacionado numa puta avenida, onde é proibido até parar na pista!
E eu só percebi isso porque minha mãe me ligou pedindo pra eu parar numa padaria e levar pão e café pra casa...
Depois disso, resolvi ir embora. E ele me mandou uma mensagem bem massa no celular...
Mas tá foda. Aquela peruca não sai da minha cabeça.