terça-feira, agosto 19, 2008

hora



Quando ele lhe colou na bunda, estremeceu toda, respirou alto e suou, mas suou mesmo, gelada, nervoso, uma vontade louca de apertar os dentes até quebrar e, ao mesmo tempo, de morder-lhe os dois olhos, trepada no peito dele, subindo, descendo e subindo e descendo, sem parar, um gesto frouxo: até tentou negar-lhe a carne, negar-lhe o osso, fugir daquela situação que chamava um passado de que tinha raiva, raiva subindo pelo pescoço, dando um nó na barriga e mais e mais e mais e mais tesão. Disse não, uma, duas três vezes, das lembranças roedoras de egos, do pretérito imperfeito, medos, se afastou, (medos) e ele lhe tocou um braço, (medos) e um frio na espinha que foi subindo e descendo ao mesmo tempo, até as têmporas, dando tontura, até seu sexo, que esquentou, ficou azul e não quis mais saber: foi junto, se mexeu, rebolou, provocou, mas nem precisava, que isso já vinha anunciado de noites e noites que pensava que um reencontro tinha que ser assim: de costas. Quando ele meteu, sabia que não deveria olhar os olhos que, sabia, não queriam olhar os olhos, desviados, dois na nuca, dois no sofá, escalando a parede, tentando, pra variar, escrever, dentro da cabeça o que pensava, sentia, o que acontecia (o que que acontecia?), mil notas de rodapé, adendos, desculpas, pra estar ali, fodendo como uma puta apaixonada, cachorra em cio, sabe lá, desculpas, justificativas, além da pura vontade, de há um século, de simplesmente dar. Dar a boceta, mas dar-se toda, dar-se além, porque ali era hora, ali era lugar, ali era corpo, um jeito de lhe segurar os punhos, um jeito de ser impessoal e de se enfiar, inteiro, dentro dela, inteira. Um resto de sede, um copo d’água, um resto de gente e saiu porta afora, não deixando ao menos um cigarro, dez reais que fossem, pra que ela soubesse, claramente, quem fazia quem, quando era de manhã.
Mari Brasil

5 comentários:

Anônimo disse...

BRAVO!

Rê Bordosa disse...

CARALHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!HUMILHOU!!!humilhou quem quer que pense em escrever nesse blog!

pequena sereia disse...

CARALHO MESMO!!

Das Duderik Mussi disse...

Atingiste o objetivo do conto sem sombra de dúvida!

Das Duderik Mussi disse...
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