Tem dias em que acordo e não me identifico. Fico vagando pela casa, buscando alguma coisa familiar, mas não: nada parece familiar. De quem é essa outra vida que estou vivendo, tão desinteressante e sem sentido, como se eu fosse mesmo uma pilha na matriz, um dos circuitos do programa, totalmente coadjuvante.
Fico lembrando daqueles documentários horrorosos da década de 40, sobre as linhas de montagem dos carros da Ford, uma pessoinha atrás da outra, cada uma, um parafuso a se apertar, para, no final, alguém bem mais interessante do que eu guiar a porra do automóvel.
Talvez seja só o meu sonho hollywoodiano pequeno-burguês de viver de festa em festa, uma necessidade estranha de que todos os momentos surpreendam e de que, um dia, chegue a minha vez de pular de pára-quedas do edifício em chamas.
A rotina me tende ao nada... apertando parafusos, sem qualquer esperança de reviravoltas e novidades nas engrenagens. O que fazemos com os nossos dias é pura distração.
Trabalho? Distração. Estudo? Distração. Ouvir música? Distração (por sinal, a melhor que inventaram). Sair para dançar? Distração. Amor? Distração. Lavar o carro? Distração.
Temos de ser criativos: inventar novos modos de distração para continuarmos nos distraindo... chegando à conclusão de que a vida é pura distração. E, se não é... o que é?
Tem dias em que acordo e nada pega fogo. Esses dias... são todos os dias.
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