sábado, julho 07, 2007

Caricatura


Legal, boazinha, ciumenta, fiel, crítica, vingativa, persistente, fútil, megalomaníaca, sincera, chata, graciosa, metida, sem-vergonha, inteligente, vaca!
Que porras de adjetivos são esses que me enxergam? E vão amontoando na tentativa vã de me constituir um só?
(Como é que eu não me enxergo esses pedaços?)
Como é que eu não junto tudo num desenho da minha cara e dos meus seios e dos meus braços e do meu sexo e das minhas pernas e dos meus pés descalços na grama que não pisei hoje, nem ontem, nem terça!
Por que ela não nasce das minhas letras no papel, dos meus desenhos no papel, do meu assobio improvisado de melodia minha?
(Como fosse um estalar os dedos...)
Mas quem sou eu para amadurecer se ainda não completei a adolescência de juntar meus três nomes e ter um esboço de quem quer que seja?
(Não colo esses meus cacos...)
Quando sobram esses adjetivos que, juntos, não me formam. Mas... me nomeiam?
Nomeando, sou eu?
As quatro linhas tortas, início de caricatura? Ou o pão crescendo no fogo do forno?
As letras juntas do meu nome, mais os adjetivos, mais os pedaços de história reconhecida, na boca dos que não morreram ainda e dos que já foram, sobra o quê?
Esse cheiro?
Esse cheiro sou eu?
Ou esse nariz que me cheira sou eu?
Quem está agora deitada na minha banheira? Quem abre espaço na água morna para que eu me deite?
Essa idéia...
sou eu?
A foto na escrivaninha: olhos mansos e sorriso largo.
Essa imagem...
Não! Não era eu! Não sou eu!
E ainda dizem por aí que... sou eu!
Mentira!

Andam difamando esse meu não ser...

Um comentário:

Stephan Seymour disse...

Justo hoje estava olhando no espelho e nao me reconheci. Ai, naquela melancolia de quem volta cedo no feriado pra nao pegar transito, achei umas fotos antigas e tentei me reconhecer. Lembrar do que gostava e das minhas preocupacoes daquela epoca. Juro que nunca mais volto cedo em feriado... Faz sobrar muito tempo...