Acordou para o abraço do destino e correu à rodoviária.
Fugiu num ônibus para a ilha distante onde poderia realizar, à vontade, o desejo de apagar a vida que andava levando nos últimos meses.
Abriu a porta, apontou o nariz para o alto e respirou a manhã fria na beira do mar.
Pensou numa música, sorriu. E...
Começou o esquecimento do amor que não deu certo, do trabalho que não deu certo, dos receios, da inseparável solidão, da briga com o pai, da insegurança. De tudo de inesquecível que lhe havia cruzado o caminho nos últimos tempos.
Entrou numa casa, numa rua, e, desta, num torpor de congelar os ossos e engessar reflexões até nada mais doer.
E nada doendo, sentiu-se no direito de enlaçar corações alheios e buscar, incessantemente, um “não sei quê”, numa ansiedade de que o mundo fosse acabar assim que entrasse no ônibus de volta.
Deu-se no sexo como se esta fosse a última chance de ser amada. Entregou-se, assim a um, dois, três, quatro... e, ainda abraçada a este, planejava no próximo o cumprimento de suas profecias internas, como se ali houvesse a resposta a tantos maus-entendidos, nos quais se enrolava, cada vez mais forte.
Não se sabe se era uma raiva latente de tudo que cercava, ou um daqueles momentos em que se engole a solidão aos pedaços e se exorciza o demônio com mais e mais demônios...
A cada passo, mesmo sem perceber, lembrava de cada um dos esquecimentos e, num esforço tremendo para os manter distantes, beijava mais uma boca na madrugada.
Trocava carícias com estranhos, aos quais se doava como amante antiga, como quem se confia tanto, como se naqueles momentos os amasse realmente.
Acordava, ainda quente do desejo incontido e sentia que ali não poderiam ser atendidos os seus desejos... observava o corpo dormente do amante de ontem e desaparecia no sol a pino, para nunca mais.
Mas, houve um dia em que não pôde mais manter os esquecimentos distantes...
Cada um lhe batia na cabeça sem parar, estes vinte dias em cativeiro querendo sair com uma força que impressionava de triste e bonita.
Os vinte dias em que se imaginara livre eram os vinte dias em que encarcerou as dores, como se elas nada tivessem a dizer, como se nada significassem em sua grandiosidade vazia, no papel assumido de não ser quem se é, vivendo da vida que não se tem.
Durante os vinte dias, sentiu inveja de quem ama... pois acreditava ter perdido esta capacidade. E só as dores cruas que voltavam como espasmos agudos pelos membros todos fez com que se lembrasse que doíam, exatamente, porque amava...
Fugiu num ônibus para a ilha distante onde poderia realizar, à vontade, o desejo de apagar a vida que andava levando nos últimos meses.
Abriu a porta, apontou o nariz para o alto e respirou a manhã fria na beira do mar.
Pensou numa música, sorriu. E...
Começou o esquecimento do amor que não deu certo, do trabalho que não deu certo, dos receios, da inseparável solidão, da briga com o pai, da insegurança. De tudo de inesquecível que lhe havia cruzado o caminho nos últimos tempos.
Entrou numa casa, numa rua, e, desta, num torpor de congelar os ossos e engessar reflexões até nada mais doer.
E nada doendo, sentiu-se no direito de enlaçar corações alheios e buscar, incessantemente, um “não sei quê”, numa ansiedade de que o mundo fosse acabar assim que entrasse no ônibus de volta.
Deu-se no sexo como se esta fosse a última chance de ser amada. Entregou-se, assim a um, dois, três, quatro... e, ainda abraçada a este, planejava no próximo o cumprimento de suas profecias internas, como se ali houvesse a resposta a tantos maus-entendidos, nos quais se enrolava, cada vez mais forte.
Não se sabe se era uma raiva latente de tudo que cercava, ou um daqueles momentos em que se engole a solidão aos pedaços e se exorciza o demônio com mais e mais demônios...
A cada passo, mesmo sem perceber, lembrava de cada um dos esquecimentos e, num esforço tremendo para os manter distantes, beijava mais uma boca na madrugada.
Trocava carícias com estranhos, aos quais se doava como amante antiga, como quem se confia tanto, como se naqueles momentos os amasse realmente.
Acordava, ainda quente do desejo incontido e sentia que ali não poderiam ser atendidos os seus desejos... observava o corpo dormente do amante de ontem e desaparecia no sol a pino, para nunca mais.
Mas, houve um dia em que não pôde mais manter os esquecimentos distantes...
Cada um lhe batia na cabeça sem parar, estes vinte dias em cativeiro querendo sair com uma força que impressionava de triste e bonita.
Os vinte dias em que se imaginara livre eram os vinte dias em que encarcerou as dores, como se elas nada tivessem a dizer, como se nada significassem em sua grandiosidade vazia, no papel assumido de não ser quem se é, vivendo da vida que não se tem.
Durante os vinte dias, sentiu inveja de quem ama... pois acreditava ter perdido esta capacidade. E só as dores cruas que voltavam como espasmos agudos pelos membros todos fez com que se lembrasse que doíam, exatamente, porque amava...
demais...
Mari Brasil
3 comentários:
Lindo, muito lindo. Comprensível... Normal. Quem não passa por essas coisas? Só fica ligada porque amores demias embaralham a cuca e podem trazer confusão hahahhaha
Parece até letra do Chico Buarque!
Gostei!
Caralho!!!como vc escreve bem, muié!
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