sábado, agosto 23, 2008

DESABANDO-DESABAFO-DESANDANDO-DES... DES... DES...

Hoje, aos 28, acordei cansada da festa da madrugada anterior, às duas da tarde, de ressaca. Um mau-humor dos infernos. Parecia que havia levado uma surra.
Mais uma destas e acordo pensando no concurso para o qual devo estudar, e toda essa vida pra levar do que escolhi fazer com a minha vida.
Eu andava morando na ilha da fantasia, desde os dezoito, quando fui expulsa, sem avisos, pra terra do nunca.
Mas é uma terra do nunca mesmo, tudo pára, de repente, quanto mais você estuda e entende o que que ta pegando de verdade, mais você quer mesmo enlouquecer, saber mais só por saber e torcer para não chegar aos trinta.
Aqui tem uma miséria, um cheiro podre no ar, daqueles que a gente pensa que só passa na tv, se tv passasse cheiro.
Tudo muito simples: dar a boceta aleatoriamente de vez em quando, ver a grana virando pó bem debaixo do seu nariz, embriagar-se, embriagar-se e... embriagar-se.
E livros. Livros dos outros, livros seus e a sensação de que a vida anda passando só nas páginas e que a sua continua em branco.
Mais uma manchete de jornal: fulana vai se casar com um puto que pariu.
Ninguém entende o foda de ser mulher nessas horas...
É um lado do cérebro dizendo “trouxa, vai lavar cuecas”. E outro que lembra de novelas e coça a bunda e se pergunta, se esse vazio aqui não é solidão e se, de repente, eu levasse fé nessa vidinha, se decidisse acreditar...
Mas, não dá. É lavar cuecas.
Uma cachorra me adotou e me leva a passear no final da tarde. Mas, se até ela anda exigente, chora para ficar dormindo embaixo das minhas pernas enquanto eu digito, imagina um outro eu. Num guento.
Queria que o governo implementasse uma nova classe trabalhadora, a das donas de casa sem casa e sem marido, que ganhariam uma boa grana pra passar o dia fazendo rango, lendo coisas muito boas, escrevendo, cantando, ouvindo música e sendo passeadas pela cachorra.
A parada é que todo mundo ta muito ocupado cuidando da própria vida. E eu até queria cuidar da minha, tirando o fato de que não sei bem o que fazer com ela.
Genial. Todo mundo me dizendo que sou genial. E eu só vejo da falta de decisão, escolhas adiadas, planos frustrados, homens - para não se pensar em outras coisas -, um mundo caindo aos pedaços.
E olha que sempre foi uma esperança brega de fazer alguma coisa que valesse a pena, mas ela anda cada vez mais corroída de vergonha, de auto-piedade, de preguiça, sei lá.
Anteontem um moleque ranhento veio me pedir uma grana no farol.
E, todas as vezes que isso acontece, vem uma culpa, pelo fato de eu não ser ranhenta, estar dentro do carro, esperando o farol abrir. Eu e minha carteira de habilitação, e o meu dinheiro porco, e a minha saia curta comprada no shopping, e o meu cérebrozinho pouco-desenvolvido que vale mais, sabe-se lá por quê.
Ah. Se eu ficasse contando tudo que passa na cabeça, escreveria um livro sobre o moleque do farol. Talvez dê uma grana.
Perguntei outro dia pra Maria, antes de ela vazar, se era isso aí mesmo: a vida.
Ela disse: “sinto ser eu a informar, mas... é. É isso aí mesmo”.
Nessa noite eu chorei na cama, antes de dormir.
É sábado. Daqui a pouco vou atrás de uma boa trepada. O conforto de um orgasmo, de não se pensar, sentir, lembrar, de nada, além daquela explosãozinha que se experimenta ali, naquela hora. Reconfortante. Nascer de novo. E ainda, de quebra, a possibilidade de se apagar, agarrado em algum outro ser, como, se naquela hora, estivesse à tona, naquele corpo, todas as nossas esperanças e convicções.
Pelo menos até o dia seguinte.
Mari Brasil

2 comentários:

Medusa disse...

Comesse o outro texto? Que fala do irmão? heheheheheh era tão legal...rs

Pandora disse...

como, comi? tá em cima desse, louca!
aliás, bom mesmo é o "hora", q já tá na outra página... mais antigo.