E eram felizes...andavam de mãos dadas, saiam pra ver a lua, celebravam a vida com vinho branco, sexo e cineminha. Ela, enchendo a casa de perfume, de encantamentos. Ele, sonhando delícias, fazendo desejos. Encantamento e desejo, mistura mágica, foram tomados a cada dia pela vontade de permanecerem juntos. Aumentou tanto que encantamento e desejo já não podiam mais enxergar a vida um sem o outro e, como todo apaixonado, ou seja, seres que não estão em seu estado normal de consciência, foram tomados por uma loucura sem igual, inacreditável mesmo em se tratando de encantamento e desejo. O desejo, sem pensar, pois pensar não é próprio do desejo, pergunta: "Vamos ficar na vida juntos?" E encantamento com a resposta fácil, pois não é próprio do encantamento manter os pés no chão responde "Só se for agora!"
Lá foram eles, namorando, brincando, sorrindo, fazendo planos, construir a vida juntos. Mas, as palavras ditas em segredo não bastavam para ficar na vida juntos, era preciso algo mais (até porque os sentidos sempre mudam e algum dia encantamento ou desejo, poderiam cair nas armadilhas da multiplicidade de sentidos), o que era mesmo? "Ah, casamento, essa é a palavra", disseram desejo e encantamento. Papel assinado com testemunhas, para garantir que as palavras que foram ditas significavam aquilo mesmo.
Casa, quintal, cachorro, contas, TPM, pouco tempo pra brincar, "o que era isso tudo mesmo?", se pergunta encantamento, "Ah! Casamento, essa é a palavra" E, de repente, encantamento e desejo com muita surpresa percebem o início de um processo de metamorfose estranho, ao invés de se transformarem em borboletas, como ocorre na natureza, dentro do casamento os seres transformam-se em lagartas! Os dois, muito inocentes ainda, não sabiam que casamento envolvia metamorfose, até então achavam que casamento envolvia abraço apertado, sexo em dia de chuva e em dia de sol, beijos que mal podiam esperar a noite cair...mesmo sem o consentimento de ambos a metamorfose se completou, encantamento e desejo transformaram-se em mulherzinha e maridinho. Já não havia mais tempo para brindes, estavam cansados demais para longas noites de amor, apressados demais para beijos demorados, acompanhados demais para ficarem sozinhos e casados demais para dizerem para si e para o outro que a metamorfose havia se completado muito rápido e que nenhum dos dois estava satisfeito com a nova forma. Com o fim da metamorfose veio o fim do casamento. Dizem que mulherzinha e maridinho aprenderam a lição e que vivem por aí, podem ser vistos em noites de lua cheia nos bares da vida.
Ah...se eles soubessem antes que as palavras não podem ser trancafiadas em sentidos únicos e que encantamento e desejo precisam de espaço para crescer, precisam sair por aí e ver o mundo, dançar, voar e voltar ainda mais cheios de encantamento e desejo!
quinta-feira, março 30, 2006
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6 comentários:
Ora, e não é assim nos contos de fada? Ah, nos contos de fada o sapo vira príncipe né? rs... bom, na realidade (e porque a realidade existe, ou não existe? HAHAHAHAHA) o princípe vira sapo. E o problema é que um dia a Branca de Neve acorda, não por causa do beijo do príncipe, mas é que o bafo era tanto que a coitada desperta.
Cara cleópatra, vc fez um texto digno de rainha!!!
fenomenal. mesmo.
encantamento e desejo são tudo de bom q a vida nos traz... e nos leva... pra começar mais encantamento. e mais desejo.
Curvo-me aos seus pés, encantadora rainha do Egito e do Desejo.
adorei esse texto!
encantamento e desejo precisam de espaço para crescer...assino embaixo.
Que texto lindo Cleópatra! Fiquei boquiaberta! Produção de sentidos ... dá-lhe AD.
Casamentos........enlaces com a fixação de coisas que não podem ser fixas!!!! Exatas!!!
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