Estava conversando com uma amiga aqui de Sampa. Numa sexta à noite, via msn. (não sei se vocês percebem o absurdo da situação. Sexta à noite – em casa. Em Sampa. Quando eu digo que o mundo está acabando, ninguém acredita...)
Essa minha amiga estava me explicando como tudo na vida dela estava programado para, daqui a dez anos, numa sexta à noite, ela ter bastante dinheiro, uma casa legal, um carro legal e a possibilidade de escolher – numa sexta à noite – o lugar aonde ela gostaria de estar. Tipo, qualquer bar, qualquer restaurante, qualquer danceteria, whatever.
E ela estava me contando os detalhes da sua programação, o quanto ela teria que guardar de dinheiro por mês, quantas horas-extras teria que fazer... enfim, me explicando porque ela não podia sair comigo naquela sexta – tinha que trabalhar no sábado de manhã (hora-extra n° 429).
Eu não conseguia entender a lógica da cabeça da minha amiga. Por isso tentei me imaginar na situação dela, programando minha vida pra daqui a dez anos.
Fiquei pensando que, daqui a dez anos, talvez eu nem queira sair pra qualquer lugar numa sexta à noite. Talvez eu queira ficar em casa lendo um livro, ou vendo um filme. Talvez eu esteja casada com dois filhos e simplesmente não possa fazer isso. Talvez o Alckimin ganhe a eleição pra presidente e confisque a minha poupança, daqui a dez anos, me deixando sem escolhas pra uma sexta à noite, como o Collor fez.
Talvez... talvez eu nem esteja viva...
Sei que Sampa tem outro ritmo e eu estava desacostumada. Provavelmente o contato com o mar e com o mato tenha me feito ver outras coisas boas para passar o tempo além de programar o meu futuro – como, por exemplo, viver o presente.
Mas preciso protestar o fato de eu ter que marcar hora pra fofocar com as minhas amigas que moram do lado da minha casa! Isso pra mim é absurdo! Pra quem não almoçava sozinha há uns dois anos (sempre tinha algum amigo por perto), isso é no mínimo esquisito. No máximo, uma falta de vergonha ou de percepção e mau-uso do tempo...
Pois é. Na maior metrópole da Brasil, eu nunca me senti tão sozinha.
Tem todo tipo de coisas pra se fazer nessa cidade numa sexta à noite – desde suruba até baile sertanejo. Mas ninguém sai!
Lembro de uma galera reunida lá em Floripa, caçando um lugarzinho massa pra sair à noite e terminando a noite no primeiro boteco que aparecia, porque lá, às vezes, não tinha opção... mas, mesmo assim, ninguém ficava em casa!
Aqui as pessoas não se encontram mais. Quando se encontram, falam com a gente ao mesmo tempo em que atendem telefone e vêem televisão. Porque não há tempo. Se se desperdiça o pouco que há... como será o futuro?
Mas que porra de futuro é esse?
O fato é que a minha amiga (e vários outros paulistanos) não conseguem ver que podem escolher, nesta sexta, aonde querem estar. E, ao invés de irem pra esse lugar, ficam sonhando em ir daqui a dez anos, quando, talvez, haja condições normais de temperatura e pressão (CNTP) pra realizar esse grande sonho.
O grande problema é que as pessoas estão neuróticas demais, cansadas demais, ocupadas demais, assustadas demais, casadas demais, analisadas demais, engarrafadas demais, televisonadas demais pra perceber essas coisinhas bobas...
Bom, fazer o que? Vou pra balada sozinha.