sexta-feira, novembro 17, 2006

Pra você que parece não me notar II

Gosto sim de você. Mas não aqui, nem agora. E sim em algum outro lugar, de madrugada. Num apartamento vazio que não existe além dos meus sonhos. Gosto de você na minha cabeça apenas.

O modo como me conduz. Os beijos desesperados que arregaçam a minha boca (como come uma maçã?). Gosto da correria, do nervosismo, da necessidade, do calor, do suor...

Gosto da sua posição insensível, da falta de amor, da presença apenas do desejo. Somente uma brutalidade despontando num cheiro (cheiro) tão entorpecedor quanto o toque das suas mãos ao redor do meu pescoço...

Fico assustada com a sua violência, mas é ela mesmo que tanto me seduz. E quando tento fugir de você, já estou totalmente envolvida pelo seu clima tempestuoso. E me rendo. E você me devora.

É esse você que eu amo e me apaixono todas as vezes que me ponho a desejar. Mas esse você não existe.

E me desaponto, e me freio, e não te quero de verdade. Essa triste mistura de solidão, carência e sensibilidade. Tudo isso que é você, eu já tenho. Quero todas as diferenças, mas você não as tem. Só na minha cabeça. Quero a falta do seu afeto... Quero que se aproveite de mim... Que me use... Que se satisfaça de maneiras não convencionais...

Então não te procuro mais. Não tento te apaixonar. Sei que posso, mas não quero (sei que o faço, mas não quero). Porque assim os papéis do meu sonho se invertem. Sou eu que te destruo, te sugo, te estrangulo. Sou eu que te devoro. Mas esse papel eu já encenei demais. Quero a novidade.

Não. Prefiro, então, te ver no mundo da realidade com outros olhos, com olhos amigos (tento). E deixo meu olhar doente, demente para cruzar os seus, famintos e cruéis, nos meus sonhos. Pois é só neles que o você que eu desejo existe.

3 comentários:

MONALISA disse...

O duro é continuar presa nisso! Como disse pra Medusa "o contrário do amor não é o ódio e sim a indiferença".

Pandora disse...

minha cara... esse texto tem uns 6 anos! eu só acho ele legal, por isso postei. essa minha personalidade não fica muito tempo presa a alguém... heheheheheh.

Stephan Seymour disse...

Gostei demais!