O tempo passava e ela superava, com dificuldade, alguns dos obstáculos (im)postos à prova. Cada vez menos podia dizer e, ao perder as capacidades de dizer, perdia sua capacidade mesma de ler o mundo. Pois em sua leitura, já estavam suas palavras sendo ditas, incorporadas antes à sua alma, num outro gesto de leitura.
Seus textos passavam e ela os deixava passar, com medo da voracidade com que o outro pudesse lê-los, julgá-los e apagá-los, deixando o dito por não dito, perdido que estava em sua própria leitura das outras leituras – perdido que estava em seu dizer, que não incluía o dela.
Nos mil monólogos que se seguiam, ela se via silenciada. E tentou pedir, tentou mostrar como o seu silêncio significava: disse, através dele, dos seus receios quanto ao julgamento do outro: disse que se sentia intimidada pelos dizeres do outro: estendeu sua mão e esperou o resgate de suas palavras: o resgate de sua leitura pela leitura do outro.
Mas, suas palavras já estavam julgadas, antes mesmo de ser ditas. Não poderiam competir com as do outro, perdido que estava em desvelar e expressar todas as dores que sentia, fruto de sua estúpida humanidade, construída pelas leituras mesmas que ele fazia, que nunca, nunca, poderiam ser as dela – suas palavras não valiam.
E ela também tinha dores e uma maior começou a aflorar quando percebeu que em nada era capaz de expressar seus dizeres a ele, nem mesmo pelos silêncios, nem mesmo através de seu corpo, que tanto falava e tanto gostava e tanto tinha a mostrar. A hora chegara: ela estava muda.
Muda, envolta num turbilhão de sentimentos que condensavam na garganta e nela se estabeleciam como um câncer. Muda em sua curiosidade de lê-lo: este ser inacessível que papagaiava os problemas do mundo e não os lia como seus. Sempre buscando estes “seus” em algum texto transcendental, sem perceber que já estavam lá, em sua leitura: eram as palavras, seus problemas.
Muda, não há como se relacionar com o mundo. Especialmente, com o mundo dos dizeres desse outro, que implica palavras pouco ortodoxas e às quais ela não tinha acesso e desejava tanto ler. Muda, não poderia dizer o quanto amava a curiosidade de ler aquele mundo e de fazer parte dele. Muda, não disse como amava ler as palavras do outro, mesmo que elas não fizessem nenhum sentido.
Nos mil monólogos que se seguiam, ela se via silenciada. E tentou pedir, tentou mostrar como o seu silêncio significava: disse, através dele, dos seus receios quanto ao julgamento do outro: disse que se sentia intimidada pelos dizeres do outro: estendeu sua mão e esperou o resgate de suas palavras: o resgate de sua leitura pela leitura do outro.
Mas, suas palavras já estavam julgadas, antes mesmo de ser ditas. Não poderiam competir com as do outro, perdido que estava em desvelar e expressar todas as dores que sentia, fruto de sua estúpida humanidade, construída pelas leituras mesmas que ele fazia, que nunca, nunca, poderiam ser as dela – suas palavras não valiam.
E ela também tinha dores e uma maior começou a aflorar quando percebeu que em nada era capaz de expressar seus dizeres a ele, nem mesmo pelos silêncios, nem mesmo através de seu corpo, que tanto falava e tanto gostava e tanto tinha a mostrar. A hora chegara: ela estava muda.
Muda, envolta num turbilhão de sentimentos que condensavam na garganta e nela se estabeleciam como um câncer. Muda em sua curiosidade de lê-lo: este ser inacessível que papagaiava os problemas do mundo e não os lia como seus. Sempre buscando estes “seus” em algum texto transcendental, sem perceber que já estavam lá, em sua leitura: eram as palavras, seus problemas.
Muda, não há como se relacionar com o mundo. Especialmente, com o mundo dos dizeres desse outro, que implica palavras pouco ortodoxas e às quais ela não tinha acesso e desejava tanto ler. Muda, não poderia dizer o quanto amava a curiosidade de ler aquele mundo e de fazer parte dele. Muda, não disse como amava ler as palavras do outro, mesmo que elas não fizessem nenhum sentido.
Muda, precisava gritar que muda, amou antes de julgar, amou antes de ler, amou o próprio gesto de leitura: porque não há como se ler este amor pelas palavras através das palavras. Muda, os sentidos deste amor pelas palavras tendem ao infinito, sem palavras.
4 comentários:
Nossa, acho que a Orlandi deve ter acesso a este texto... O que a AD não faz com este povo, hein!?!
Literalmente em toooodos os momentos...
ehhehehehe...
se liga q Orlandi não faz porra nenhuma, q eu nem leio essa chata... kem faz isso é o Pêcheux! uhuuuuu!!
Eu sei né... Mas já que é um blog feminino, por que não referenciar a (sub) autorA?
pq eu não gosto dela, poxa... só por isso... hehehehe
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