Na verdade, quando a Branca de Neve mordeu a maçã, ela caiu mortinha. Os anões a colocaram numa redoma de vidro e observaram o seu cadáver ir se decompondo por meses... até que perdeu a graça e eles voltaram a trabalhar na mina para desenterrar diamantes – já estavam ficando sem grana.
Nenhum príncipe passou por ali. Eles estavam muito ocupados caçando sem ter necessidade, gastando impostos públicos em orgias particulares, organizando guerras para conquistar novos territórios, enfim, ocupados demais para ir passear na floresta encantada. Afinal, isso é coisa de plebeu.
Já a Cinderela, esta sim! Casou-se com o príncipe e foi morar em seu castelo. O problema é que ninguém explica o que significa “viveram felizes para sempre”. Não explicam direito, nem mesmo, que fatores levaram o cara do cavalo branco a escolher, entre todas as beldades do reino que estavam doidas pra dar pra ele, uma Cinderela!
Vejam: o príncipe queria mesmo alguém que fosse doce, submissa, gostosa e... mentalmente boçal! Todas as mulheres de boa família, questionando-se ou não sua educação na época, não eram babacas! Compreendiam muito bem o que era poder... o que era propriedade... o que era riqueza, bem-estar, etc. Mas a Cinderela... coitadinha! Ela compreendia o que era lavar panelas! Esfregar chão! Atender ordens! O que mais o príncipe ia querer na vida? Ele nunca ia ser questionado por absolutamente nada!
A menina que passou a vida esfregando o chão deve, realmente, achar tudo de bom casar com o príncipe, seja ele ausente ou não, grosseiro ou não, tendo que lavar as suas cuecas ou não, dividindo-o com tudo que era mulher que ele resolvia comer ou não. Não decidindo, enfim, absolutamente nada do que poderia ser a sua vida... pois, resolveu vivê-la em função do príncipe.
E a minha amiga até comentou comigo que os tempos mudaram, mas os contos de fadas continuam os mesmos: vocês já viram Shrek? Princesa Fiona e tal? Onde já se viu, escolher ficar feia, só para viver “feliz para sempre”... com um ogro??!! Percebem que a coisa está piorando?
Estamos abrindo mão até mesmo da nossa beleza para satisfazer os príncipes encantados! Só para ficar junto de alguém!
E a pequena sereia... acho que destas, é a única história com final realista. Mas, foi pervertida pela Disney!
Vocês sabem que a Ariel, aquela ameba apaixonada, impregnada de princípios romanceados do amor, resolve, no ápice da sua insanidade atrás da “tampa da panela”, abrir mão da sua voz para poder ir atrás do seu príncipe (da sua voz! Quer metáfora mais metafórica que isso? A mina cala a boca pelo cara!). E ela tem um prazo pra conseguir o amor do príncipe, sem voz! Imagina?
E, pela Disney, ela consegue! Porque mulheres não precisam mesmo falar pra um príncipe se apaixonar por elas! Aliás, talvez seja mais fácil que ele se apaixone desta forma... mas, na história original... o príncipe nem dá bola pra ela... e a dita cuja morre de amor.
Morre de amor! Sabem o que isso quer dizer? Morre assassinada pela loucura que vão enfiando nas nossas cabecinhas, desde que nascemos: contos de fadas, novelas, filmes da Julia Roberts, reencontros saudosos do fantástico, José de Alencar, Roberto Carlos...
De novo: a tal tampa da panela, alma gêmea, chinelo velho, par perfeito! Tudo porquê... ninguém conta a parte do “felizes para sempre”. E nós aqui, procurando esse príncipe encantado, que nem tem nome, porque não precisa, já que é um ideal, ou seja: não existe!
E, sem querer desfazer as ilusões de ninguém (mesmo porque eu não conseguiria – não desfaço nem as minhas!), preciso estabelecer o paralelo com as mulheres de verdade que conheço e que passam a vida procurando, para si, estes contos de fadas! São mulheres que encontraram seus príncipes, vivenciaram a parte do “felizes para sempre”, acharam uma bosta, conseguiram sair dessa e... estão doidas para tentar de novo!
Como assim????
O pior de tudo, é que eu entendo... porque eu acompanhei as histórias de todas elas. Sei que é completamente ilógico, idiota, babaca e etc! E... ainda assim... eu também quero!
Alguém, por gentileza, exorcize a Branca de Neve que existe em mim! Tou cansada de comer maçãs envenenadas para alguém vir me salvar!
6 comentários:
Eu tudo fica ainda pior com a ditadura da Barbie...
Além de calar, morrer ou virar uma ogra, é preciso ser loira, magrela e peituda para se dar bem!
É amigas estamos perdidas! hahahah
huahuahauhauhauhua
meu deus.....
adorei, uma graça.
NA Psicologia Analítica Junguiana a gente estuda que os contos representam simbolicamente a união entre os princípios masculinos e femininos....então ser feliz pra sempre seria possível se considerarmos como príncipe uma parcela de nós mesmas...hehehe
para a Pequena Sereia: o ponto é: não é para se dar bem! é para se dar mal! temos que parar com isso! isso não é bommmm!!!! enfiaram na nossa cabeça q isso é bom! temos q extirpar essa porra do nosso imaginário!
para a Marie: cara, preciso dizer que os princípios masculinos são smepre iguais e se chamam príncipe encantado. Não dá meu! Tem alguma coisa errada nessa coisa! Aliás, meu próximo texto vai ser sobre o príncipe encantado: tenho várias teorias que o Jung nem sonhava! Aliás, sou obrigada a supeitar desse fdp! afinal, era homem! huahuauhahuauhauhau!
meu, ja te falei em off,em parte o q achei e quanto amei o texto, principalmente a parte da fiona...deixei a outra parte pra falar aki, ... mas... melhor não... pq vai sair muito palavrão...
na real, sabe como estou revoltada com todas as mulheres , inclusive eu...
quero matar Jung, pena q ele ja esteja morto...
só seríamos felizes o dia que matássemos todas essas princesas debil-mentais que ainda povoam nossos inconscientes...
me diz o q q mudou do tempo dessas infelizes para sempre dos contos de fadas e do nosso????
Que coisa... estava numa calorasa discussão sobre contos de fadas quando a Maria chamou pra ler esse texto. Um ótimo desabafo, como sempre um de seus textos deliciosos... mas só um pequenino porém, não coloca os contos de fadas no mesmo nível que novelas, Julia Roberts e Roberto Carlos. A Disney sim! Ela que transformou os contos de fadas em um desfile de princesinhas tontas e fúteis...
Eita mídia de massa mais malvada que a madrasta Jatobá!
bjs
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