sábado, maio 03, 2008

sofá


Feriado de chuva. Floripa mais parece Atlântida. Mais pela falta de vontade que pela chuva, entreguei-me ao sofá. Com direito a filme, travesseiros, cobertor e um amigo bicho esquentando os pezinhos sempre frios! Há quanto tempo não me deleitava nesse nada. Nos instantes descompromissados diante da tela mágica. Em que se pode estar de legging cinza, short colorido, blusa roxa e meia rosa! Descombinando, descabelada. Confortável, mas não exatamente feliz.

O Sorriso de Monalisa conta de algum jeito a minha história. E as meias rosa não combinam com a professora subversiva, que indignada com as coisas do mundo não consegue ser exatamente tudo aquilo que inspira. Talvez queira apenas um romance simples e doce, desses que acontece mesmo, somente, com a Julia Roberts.

E a dicotomia romantizada e criticada me faz pensar... Não que quizesse ser somente esposa, cuidar dos filhos e dos cachorros... Mas essa escolha não nos é mais permitida. O destino das mulheres da minha geração está projetado. Sê forte! Talvez entenda um pouco, agora, as amigas loucas que por descuido ou excesso de vontade engravidam. Mulheres que assumem a vontade de ser com alguém. De um jeito certo ou um jeito torto.

O sofá torna-se imensamente grande. E com dois braços não consigo acariciar minhas costas. Minha boca não consegue morder minha nuca, nem contar segredos aos meus próprios ouvidos. E com apenas os meus dois olhos verdes não consigo ver meus sentimentos refletidos...

Nessa hora, meus conhecimentos em física teórica não substituem uma fonte de calor externa! A compreensão exata da epistemologia não substitui a falta daqueles suspiros, reflexos de carinho, esperança e desejo. E nenhuma linguagem é tão prazerosa quanto o ronronar consonante dos amantes.

Acho que é por isso que demoro tanto a me entregar ao sofá. Ninho e divã . Que acolhe e provoca a vontade de ser com alguém.

11 comentários:

Leila Diniz disse...

Nesse mundo de maluquices, moderno, em que a gente vive, às vezes quem assume essa vontade de ser com alguém é visto como meio esquisito, criticado até. Sinceramente eu acho que essa é uma das coisas que vale à pena investir na vida: ser com alguém. Não que não sejamos completos sem isso, mas torna as coisas mais gostosas.É o que eu acho...claro que tem que ser relativizado, afinal sou uma florzinha assumida. Na real é complicado né...às vezes temos isso e não queremos, queremos ficar sozinhas e quando estamos sozinhas, queremos ter alguém. O negócio é ir tentando as diferentes formas de nos sentirmos mais felizes...

pequena sereia disse...

ufa! achei que fosse apenas devaneios de sereia!

Anônimo disse...

Consegue visualizar a beleza do seu texto em prosa!
Então dá um tempinho com a poesia e continue com a sutileza dos textos corridos e sem rimas pobres

pequena sereia disse...

Agradecida pelo elogio!
Mas as rimas persistirão! Com um gosto de escola primária e suas pequenas e pobres descobertas!
;)

Pandora disse...

faz tempo que eu queria dizer isso aqui...
tenho que discordar completamente desta "exigência modernosa" em relação as mulheres: sê forte!
cara, isso não é novidade... ela sempre existiu... o tempo todo, todas as gerações, todas as idades! Todas as malditas eras geológicas!
você considera fraca a tua avó? eu não!
ser forte não significa, de maneira nenhuma (nenhuma!), ser só! aliás, tenho que dizer, que, ao lado dos machos, temos que ser mais fortes ainda!
queria ainda te perguntar quem anda te exigindo isso... te dizendo que tens que ficar só?? quem? que eu saiba... nosso círculo de amizades envolve mulheres completamente fortes, guerreiras e batalhadoras que, além de quererem conquistar o mundo todo só pensam em... CASAR E TER FILHINHOS! em ser com alguém!
fala sério... tás achando desculpa pra ficar bofando, qdo não precisas! ahhahahah!
livre gata... te liberta...
beijos!

Pandora disse...

ah! me empolguei tanto na discussão que esqueci! o texto é lindo...

pequena sereia disse...

Concordo que as mulheres sempre foram fortes...
Talvez mais ainda quando o parto era apenas normal, quando tinham 17 filhos, quando não podiam ter orgasmos multiplos e ainda faziam o serviço da casa, tiravam leite da vaca ou lavavam as roupas etc, etc, etc...

Mas pra mim, infelizmente, não dá pra casar e ter filhinhos, cachorro, fazendinha e ainda fazer pós-doutorado em Cambridge!

Talvez meu cérebro seja muito masculino e eu não consiga fazer muitas coisas ao mesmo tempo! hahahaha

Medusa disse...

Olha, simplesmente lindo. Sabes, nessa busca incansável de sermos fortes esconde uma fragilidade terrível. Máscaras de fortaleza escondem essa simples vontade de ser com algué, encostar a cabeça no ombro, fazer e receber um cafuné, admitir que somos frágeis e doces (não bobas). Nossas mães dizendo: não seja como eu fui, seja livre, independente, não case, não tenha filhos, viaje, faça loucuras, não ame! Faça o que não fiz! Mas não falam do lado bom da história, nos negando o direito de sermos com alguém simplesmente. sei lá, me sinto assim e quando me deparo frágil e com alguém custo a admitir o quanto isso me dá prazer, para mim e para os outros. Ao negar a vontade de ser com alguém negamos a nossa própria vontade de sermos com nós mesmas. Viajei... pode ser... mas esse texto me fez pensar muito. Parabéns pequena sereia!

Medusa disse...

Rimas pobres
Rimas ricas
Picas nobres
nobres picas
hehehehhehehe
Só pra dizer... alguém por acaso está pedindo opinião do prof. Pasquale Neto? hehehehehehheh

MONALISA disse...

Pequena Sereia... adorei teu texto e tua referência à Monalisa... Interessante ver/ler como você me entende e como temos identidade para além dos signos. Estou lisonjeada. Te adoro!

pequena sereia disse...

Ser elogiada pela Monalisa não é sempre! viva! gracias!