O cara dos meus sonhos já apareceu duas vezes. Ele era tudo mesmo que eu buscava. Era tudo que eu desejava, que imaginava existir em alguém.
E foram mesmo maravilhosos os momentos que passei com eles. Tão maravilhosos que não ter mais esses momentos é muito dolorido.
E eu perdi esse cara dos meus sonhos duas vezes. Tentei, de todas as formas, fazer esse cara voltar – mas ele não voltava. E doía mais ainda, porque o que parecia é que o cara dos meus sonhos simplesmente não queria ficar comigo.
E aí... depois de passar por um amor tão maravilhoso, como voltar à vidinha normal? Voltar às baladas, beijar bocas que não fazem sentido, conversar com pessoas que, simplesmente, não são ele?
Como sair de um mundo de sonhos, que surge arrebatando todas as nossas bases, nos fazendo flutuar no vazio de um abraço longo e delicioso – perfeito – e tocar, novamente, os pés no chão?
Depois de ter encontrado o cara dos meus sonhos... fica difícil querer qualquer outra coisa.
E, muitas vezes, o que dá vontade mesmo é de pirar, largar tudo, sair correndo atrás desse cara, não interessa onde, nem como, nem porquê.
O problema maior é que não perdi o cara dos meus sonhos porque ele foi embora. Ou porque ele não me quer mais por perto. Ou porque deixei de gostar dele ou ele de mim. Perdi o cara dos meus sonhos muito antes de qualquer uma dessas coisas porque, de repente, ele se tornou real...
E, ao se tornar real... ele se tornou... outra coisa...
Todos aqueles encantos iniciais cessaram de existir: o brilho dos seus olhos pra mim não era mais o mesmo. Suas vontades constantes de me encontrar a cada segundo também não – afinal, eu já estava lá, a mulher dos sonhos dele... não era mais necessário tanta pressa...
Nossos beijos demoravam mais para acontecer. E, quando aconteciam, não era como se fosse o último (como foi o nosso primeiro beijo, nosso segundo, nosso terceiro...). Era como se minha boca sempre fosse estar ali...
Não nos encontrávamos mais para andar, fugidios, pelas ruas à noite. Sem caminhos definidos, a não ser os braços um do outro. Não nos encontrávamos mais para ficar sentados num banco de parque, nos olhando, admirando, com a intenção única de partilhar aquele momento um com o outro.
O sorriso dele pra mim não era mais sincero e desesperado - como se fosse a última coisa que eu devesse lembrar. Nem o seu abraço – claro, a mulher dos seus sonhos estava ali, real. E entregue.
Nesse momento, eles revelaram um outro “eu”: um eu preguiçoso em relação a mim. Um eu que não precisava mais se esforçar, me conquistar, me abalar, me surpreender – porque eu já estava encantada com o “eu” de antes...
E eu também revelei um outro “eu”: insatisfeito, confuso, que perguntava, a cada segundo, “o que aconteceu”? "Onde está o cara dos meus sonhos"?
E eu procurava e procurava nesse cara, aquele primeiro. E não achava. E ficava mais triste e mais confusa ainda...
Até que esses caras dos meus sonhos foram embora totalmente. Deixando ali, no lugar, uma outra pessoa, que eu não conhecia e não queria! Mas que era a cara do cara dos meus sonhos! Parecia tanto, mais tanto, que eu, ingênua, insisti, várias vezes.
E passei tempos revirando aquele cara estranho, exigindo o meu cara dos sonhos de volta. O problema é que eles não voltam. Eu não sei o que acontece com eles. Se são sugados para uma outra dimensão, se viram nuvens, ou arco-íris...
Só sei, hoje, que eu olho nos olhos do corpo em que vivia o cara dos meus sonhos e não mais o reconheço – apesar de tantas semelhanças que, às vezes, me dão a ilusão de que se eu tentar de novo... mas eu cansei de tentar. Eu olho naqueles olhos vazios do meu amor e sinto falta dele!
Saudade daqueles momentos mágicos que passamos pulando ondas enormes, sem tocar os pés no chão, numa praia perdida do Sul. Nossas mãos dadas e o sol tocando nossos rostos.
Saudade de olhar para estrelas enquanto ele me explicava coisas que eu só ouvia para sentir sua voz tocando a minha mente.
Saudade, não dessas pessoas agora (por elas, eu guardo um carinho. Porque naqueles corpos, antes, habitava todo o meu amor). Saudade daquelas pessoas de antes, que se perderam nas diferentes histórias que se conta da realidade... e tomaram, novamente, o rumo dos meus sonhos...