sábado, agosto 05, 2006

Crônicas da dor e da caça - 01


Nesta noite eu só olho para aquela garota. Ela era tudo que eu queria ouvir, ver e tocar.

Todos os movimentos que ela fazia me lembravam coisas delgadas, gostosas de tocar, seda, cetim. A boca parecia um morango e eu queria mordê-lo bem devagar, segurando-a pelos cabelos, segurando seu rosto, gentilmente.

Entre uma e outra golada na vodka eu fantasiava, enquanto ela me cutucava e falava bobagens sobre os caras que estavam ao redor. Eu só queria que ela calasse a boca e me agarrasse.

Então arrisquei: criei coragem, olhei nos olhos dela, bem firme. Ela sabia que neles estava escrito “te desejo”.

Ela sorriu um sorriso tão sapeca, tão maldoso, que me deixou vermelha. E levou as mãos nas minhas bochechas, me deu um beijo na boca, como quem beija um conhecido no rosto. Quase enlouqueci.

Num pulo, levantei do sofá aonde estávamos. Pensei comigo: “Talvez isso não dê certo”.

Mas ela também se levantou, pegou minha mão e foi me arrastando para fora. Enquanto eu ia, senti o efeito de tanta cerveja e vodka, fazendo o mundo parecer meio enevoado, colorido. Por um instante fiquei com um pé atrás.

Ah! Que diabos! Quando estiver morta vou ter tempo pra me arrepender de tudo.

Lá fora, meu calor entrou em choque com o frio da noite. Nos atracamos numa parede.

Como as mulheres são macias... eu sentia seus braços, seu rosto, seu cabelo, meu coração disparado. As mãos já não tinham mais caminho certo e passeavam por todos os lugares. E aquela boca parecia a reunião de todas as coisas boas do mundo. Eu estava indefesa, num sentido bom da palavra, totalmente rendida àqueles olhos amendoados que me provocavam tanto.

Nos enfiamos num canto, e tiramos nossas blusas. Eu já sentia seus seios tocando os meus. Apesar do frio, estava suando, como ela, lambendo seu pescoço, ouvindo quando ela gemia de prazer – isso me deixava nas nuvens.

Mas... me chamaram...

Era ela, me chamando pra ir pegar uma cerveja, me tirando do transe, da fantasia em que eu tinha me enfiado durante alguns minutos de silêncio no sofá do bar.

Às vezes eu não caço.

* Pra quem não sabe, eu virei sapata na última terça-feira, 01/08/06, às 16:30h. Então não reclamem, ou encham o saco. Obrigada.

Nenhum comentário: